terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

A Cada Dia (David Levithan)

Todos os dias, A acorda num novo corpo. Pode ser o de qualquer um dos rapazes ou raparigas da sua idade que vivam relativamente perto. Durante esse dia, A vive a vida do seu hospedeiro, tem acesso às suas recordações e encaixa-se, tanto quanto possível, no seu quotidiano. Mas tudo termina à meia-noite e, no dia seguinte, espera-o outro corpo. Outra vida. A já deixou de questionar como ou porque é que isso lhe acontece. Está habituado. Mas tudo muda no dia em que acorda no corpo do namorado de Rhiannon. Com ela, vive um dia inesquecível. E não pode aceitar que esse tenha sido o único...
Narrado pela voz do protagonista e centrado essencialmente no seu percurso, este é um livro que cativa, em primeiro lugar, pela aparente simplicidade. Apesar da sua natureza inexplicável, A surge como uma personagem comum, com hábitos e necessidades bastante semelhantes à de qualquer rapaz ou rapariga da sua idade. É por isso que uma das primeiras coisas a cativar para esta história é o equilíbrio entre o muito que diferencia A dos restantes e o muito mais que tem em comum com aqueles com quem se cruza. Não fosse a mudança de corpo que ocorre a cada dia, e A seria um indivíduo perfeitamente normal.
E é no âmbito da relativa normalidade que surge outro dos grandes pontos fortes neste livro: a diversidade. A percorre corpos de rapazes e raparigas, cada um com os seus problemas e particularidades, mas todos com o seu valor no mundo. Daqui sobressai, é claro, uma grande mensagem: que a diferença não é motivo de exclusão e que temer o que não compreendemos pode ser a reacção normal, mas isso não significa que seja a mais correcta. A habita corpos de diferentes géneros, raças e orientações sexuais. E, através dos seus olhos, percebe-se o valor da diferença.
Tudo isto surge ao longo de uma história cheia de surpresas. Desde a relação entre A e Rhiannon - com tudo o que tem de impossível de superar - à convicção de Nathan de uma possessão demoníaca, e sem esquecer, é claro, as particularidades das várias vidas por onde A passa, há toda uma jornada a acompanhar, repleta de momentos surpreendentes, enternecedores, intrigantes ou comoventes, que, no conjunto, se encaminham para um final especialmente marcante. Final que não dá todas as respostas, mas que dá todas as que realmente interessam e que, por isso, fica na memória.
Trata-se, portanto, de um livro cativante e surpreendente, com personagens fortes e uma história que, juntando o desejo do impossível às batalhas pessoais de cada um, facilmente se torna memorável. Muito bom.

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