Darrow é um Vermelho. O seu papel no mundo resume-se a trabalhar como um escravo para contribuir para a terraformação de Marte, de forma a que os membros das outras cores possam, enfim, partir de uma Terra de recursos esgotados e juntar-se em paz no novo planeta. Mas o que ele não sabe é que está a ser enganado. Há muito que as cores superiores habitam o planeta, vivendo como senhores e soberanos das cores mais baixas. Tendo perdido tudo em nome de um sonho, a descoberta da verdade inspira a Darrow uma ira quase incontrolável. Mas, apesar da fúria e da dor, cabe-lhe um papel mais vasto a desempenhar. E, deixando para trás a sua própria identidade, Darrow terá de se tornar um dos Dourados para que possa ganhar poder e destruí-los a partir do interior.
Narrado pela voz do protagonista e acompanhando o seu percurso a partir de uma vida de submissão e brutalidade a uma ascensão igualmente brutal, este é um livro que marca principalmente por dois aspectos. Primeiro, a forma como equilibra um sistema sombrio e em que a violência se torna, em certos aspectos, quase normal, com uma tomada de consciência do que é certo e da luta por um sonho. E segundo, pela capacidade de desenvolver um sistema em que as linhas do poder estão claramente definidas, mas, apesar disso, se esbate a fronteira entre o bem e o mal.
Isto é particularmente interessante por ser um ponto de partida para a evolução do próprio Darrow. Se o percurso lhe revela que, afinal, é tudo muito mais complexo do que simplesmente a ideia de que todos os da classe opressora são maus, também há grandes revelações sobre si próprio naquilo por que Darrow tem de passar. Ao ver-se confrontado com escolhas impossíveis, violência inevitável e intrigas aparentemente impossíveis de combater, Darrow torna-se muito mais do que o Mergulhão da fase inicial do livro. E esse crescimento é tão cativante como os acontecimentos propriamente ditos.
Ainda um outro ponto que sobressai é o ritmo dos acontecimentos e - mais uma vez - a forma como também este se equilibra com a necessidade de clarificar as regras de um sistema bastante complexo. O percurso de Darrow está longe de ser apenas uma descoberta. É também uma luta sem tréguas, com traições, conflitos e a necessidade de definir estratégias de sobrevivência. A conjugação de tudo isto é uma história de ritmo intenso, em que há muito a assimilar em termos de contexto, mas também sempre algo de interessante a acontecer. O equilíbrio entre as duas partes resulta, claro, numa leitura viciante.
E, por fim, dois aspectos que, aliados a tudo isto, contribuem também para tornar memorável esta leitura. A escrita, cativante e fluída, representando na perfeição a voz do protagonista, com todas as suas forças e fragilidades, confere à narrativa uma muito agradável envolvência, adaptando-se ao caminho de Darrow e dando a sensação de acompanhar os acontecimentos no preciso momento em que estes ocorrem. E o desenvolvimento do sistema, com uma cativante fusão entre as imagens de um futuro possível e os elementos da mitologia clássica, cria uma base complexa, mas de fácil assimilação, para o desenvolvimento dos acontecimentos e das personagens.
A soma de tudo isto é uma leitura intensa e surpreendente, com um equilíbrio praticamente perfeito entre o desenvolvimento das personagens, do sistema e dos acontecimentos propriamente ditos, e com uma muito bem desenvolvida abordagem às possibilidades e complexidades de um sistema de castas em que uns são senhores e outros são escravos. Recomendo sem reservas.
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Estou muito curiosa com este livro, e a tua opinião só reforçou a minha vontade de o ler :)
ResponderEliminarEstou muito curiosa com este livro, e a tua opinião só reforçou a minha vontade de o ler :)
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