Da definição de um estado bem constituído e de conceitos como a soberania, o poder executivo e o do legislador. Das normas que constituem uma boa sociedade global e dos abusos que lhe podem ou não estar associados. De bons e maus líderes, monarcas e tiranos. Das bases do sistema, em suma. De tudo isto trata este livro, que, apesar da relativa brevidade, exige ao leitor toda a sua atenção para ponderar sobre questões que, há muito colocadas, nunca deixaram de ser actuais.
Poder-se-á considerar este livro como dividido em duas partes igualmente complexas: por um lado, a obra de Rousseau propriamente dita e, por outro, a longa e elaborada introdução. E, começando pela introdução, fica-se, desde logo, com uma boa ideia do quão exigente virá a ser esta leitura. Densa - talvez mais densa até que a própria obra - , citando uma multiplicidade de referências que, para quem não tenha qualquer conhecimento prévio do assunto, poderão afigurar-se como bastante obscuras, e pondo em evidência uma multiplicidade de perspectivas, enquanto introdução, pode-se dizer que é, por vezes, bastante difícil de seguir. Cumpre, ainda assim, o objectivo de abrir caminho para o que se seguirá, realçando ideias e pondo-as em evidência a partir de um ponto de vista possivelmente mais actual.
Passando efectivamente ao Contrato Social, nota-se, em contraste com a introdução, um registo mais fluído, mas igualmente denso, ou não fossem muitíssimo complexas as questões que nele são abordadas. É, aliás, a complexidade destas várias ideias interessantes, com tudo o que têm de relevante, que faz com que, independentemente das dificuldades, se mantenha viva a vontade de continuar a ler, de perceber mais, de ver o cenário global tal como representado aos olhos do autor.
Importa ainda realçar um outro aspecto. É que, nesta vastidão de ideias, há, ao mesmo tempo, uma clara afirmação da época em que a obra foi escrita - no olhar acutilante com que o autor se refere às religiões ou ao papel de determinados grupos na sociedade - mas também um todo mais vasto que se poderia aplicar a qualquer época ou sociedade. E, deste equilíbrio entre o que foi e o que continua a ser, surge algo de intemporal, de quase universal, que acaba por fazer com que todo o esforço de concentração tenha valido a pena.
É preciso que se diga que, apesar da relativa brevidade, nunca se poderá encarar este livro como uma leitura fácil, já que quer as elaborações da escrita quer a complexidade das ideias exigem ao leitor toda a sua atenção. Ainda assim, enquanto retrato do pensamento do seu tempo, mas, acima de tudo, enquanto reflexão global sobre os fundamentos da sociedade, é impossível deixar de ver a relevância de um tal escrito. E isso é mais que suficiente para justificar o porquê de valer a pena ler este livro.
Título: O Contrato Social
Autor: Rousseau
Origem: Ganho num passatempo
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