Sophie foi resgatada de um naufrágio quando não tinha mais de um ano e, desde então, ficou a viver com Charles, o seu improvável tutor. Mas nunca esqueceu as memórias da mãe - memórias que todos lhe dizem que são impossíveis e que, apesar disso, alimentam a sua certeza de que, um dia, a voltará a encontrar. Por isso, quando, num momento de crise, Sophie se cruza com uma pista inesperada - no mesmo estojo de violoncelo onde ela própria foi encontrada - Sophie sabe que agora, mais que nunca, não pode pôr de parte a filosofia de vida do seu tutor: nunca ignorar uma possibilidade. Mas seguir aquela nova pista significa uma longa viagem - e, em certos aspectos, perigosa. Mas talvez Sophie e Charles não estejam tão sozinhos como pensam na sua busca.
Há, neste livro, acima de tudo, dois aspectos que se destacam ao longo de toda a leitura, contribuindo em muito para a tornar memorável. São eles a beleza da escrita e a inocência da protagonista. A escrita, porque, num registo que é essencialmente simples e resumido ao essencial, a autora consegue, ainda assim, realçar a beleza das coisas, descrevendo lugares e ideias com uma harmonia tal que são muitas as frases memoráveis. A inocência, porque, num mundo com tanto de feio e de triste, Sophie consegue ver o melhor das coisas e das pessoas, acreditando no melhor mesmo quando tudo parece demasiado difícil.
Ora esta inocência está intimamente associada à vaga ternura que se sente ao longo de todo o livro. Isto porque, desde as objecções que surgem ao papel de Charles enquanto tutor às dificuldades inesperadas que encontram em Paris, há todo um conjunto de aspectos que pertencem, sem dúvida alguma, ao lado mais feio do mundo. E, ainda assim, a forma como Sophie encara as coisas, insistindo no que tem de fazer, porque sabe que há, ainda e sempre, algo de bom à espera, cria, desde logo, uma fácil empatia para com ela - até porque, em contraste com algumas das personagens que cruzam o seu caminho, Sophie é aquele tipo de personagem relativamente à qual se sente uma vontade de a proteger.
Quanto ao desenvolvimento da história, sobressaem os momentos de ternura, a descoberta do inesperado e as interacções estranhamente cativantes de Sophie com aqueles que o rodeiam. E a busca, claro, que, constituindo o cerne da história, culmina num final que poderia ser ao mesmo tempo um princípio. Talvez por isso ficam perguntas sem resposta e, daí, uma vontade de saber mais sobre os porquês que nunca são explicados. Ainda assim, no que é realmente importante, tudo fica resolvido e, dadas as circunstâncias da protagonista, a forma como tudo termina acaba por ser a mais adequada.
Cativante e enternecedor, este é, pois, um livro que marca, acima de tudo, pela forma como conjuga a leveza da inocência com um olhar certeiro sobre algumas situações complicadas. Com uma escrita harmoniosa, uma história envolvente e uma protagonista memorável, eis, pois, um livro que vale a pena ler.
Título: Rooftoppers - Os Vagabundos dos Telhados
Autora: Katherine Rundell
Origem: Recebido para crítica
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