Estranhezas e banalidades. Gente que vive uma vida quase normal, mas em que, de um momento para o outro, tudo se torna improvável, abrindo caminho à epifania. E regressos - à vida que se conhece, ao que nunca encontra explicação, ao que se sabe... ou não. De tudo isto - e daqueles que o experimentam - se fazem as histórias deste breve livro.
A Estranha Tentação do Lagarto Indiano, primeiro conto e o mais extenso do livro, apresenta uma mulher de hábitos renovados e um reencontro que abre tantas dúvidas como possibilidades. De ritmo pausado e tom melancólico, este é um conto que marca principalmente pelos contraste de uma descrição que é nítida e bastante pormenorizada, mas em que as percepções pessoais são, ainda assim, dominantes. Algures entre a visão pessoal da realidade e a introspecção de uma vida aberta - ou não - à mais improvável mudança, este é um conto em que as linhas de uma vida quase normal se fundem com o toque surreal que a torna mágica. E, assim, um conto que exige algum tempo, alguma atenção, alguma aceitação da estranheza. Mas que compensa pela beleza da escrita e pela forma como, a cada revelação, abre caminho a algo de diferente no percurso da protagonista.
Segue-se A Ponte, história de um homem que, na sua rotineira travessia da ponte, descobre a entrada para um mundo de revelação. Pausado, filosófico, um tanto ambíguo, cativa principalmente pela beleza da escrita e pela forma como, tal como o conto anterior (com o qual se cruza momentaneamente), conjuga a normalidade do quotidiano com a magia do improvável.
A Avenida das Tílias retoma a história de Lucina, estabelecendo ligações sem, por isso, dar respostas definitivas. O tom introspectivo dos contos anteriores torna-se aqui mais denso, mais dominante, deixando mais perguntas sem resposta. Ainda assim,a beleza das palavras compensa a estranheza.
E tudo se conclui em A Vida é um Vício, história dos fantasmas que passam pelo percurso de uma vida. Mais uma vez, Lucina está presente, ainda que também outras mulheres, numa história entre o ambíguo e o surreal, em que, mais uma vez, ficam muitas perguntas sem resposta, mas também pensamentos memoráveis e uma harmonia de palavras que, apesar do ritmo pausado, nunca deixa de cativar.
Quatro contos que se cruzam em laivos de vida comum. Assim se poderia, então, definir este breve livro. Um livro que, entre a estranheza e o fascínio, reflecte o quotidiano da vida e pinta-o de uma nova cor. Imaginativo e cativante, e, principalmente, muito bem escrito, um livro que, independentemente de tudo o que tem de peculiar, vale a pena ler.
Título: A Raiz Vermelha do Amor
Autora: Mónica Baldaque
Origem: Recebido para crítica
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