Greg Gaines está no último ano do secundário e a sua missão de vida é atravessar esse último ano sem se fazer notar, sem se juntar a qualquer grupo e, no geral, sem fazer amigos. Mas tudo muda quando a mãe lhe diz que Rachel Kushner, em tempos sua amiga na escola hebraica, tem leucemia, e o persuade - ou basicamente obriga - a passar tempo com ela. Não é que Greg ache a ideia agradável, mas a verdade é que não tem alternativa. E, por muito que isso lhe desagrade, a convivência com Rachel implica adoptar uma nova postura, revelar uns quantos segredos e dizer adeus ao seu tão bem preservado anonimato.
Não é propriamente uma coisa surpreendente, até porque o próprio narrador que o anuncia desde o início, mas uma das coisas mais peculiares deste livro é que, apesar de ter como base a história de uma rapariga com leucemia e de, por isso, ter como horizonte a possível morte de alguém, este está muito longe de ser um livro sentimental ou que, de alguma forma, pretenda transmitir uma lição de vida. E é tendo isto em conta que um dos principais pontos fortes se revela: a tal lição de vida pode não ser intencional (pelo menos para o narrador), pode nem sequer ser o cerne da questão, mas a verdade é que está lá.
Outro aspecto peculiar é que não só nenhuma das personagens é perfeita, como têm até bastantes defeitos. Greg, Earl, Rachel e grande parte das restantes personagens são adolescentes e isso implica todos os dramas, exageros e constrangimentos típicos da idade. Na verdade, exageros é o que não falta nesta história, muitos deles propositados. E é aqui que surgem os sentimentos ambíguos. Por um lado, se o objectivo é contar uma história divertida, então o objectivo foi cumprido. Desde os estranhos filmes de Greg e Earl aos comportamentos bizarros de várias personagens, há, de facto, todo um conjunto de situações caricatas a contribuir para que esta história seja uma leitura divertida. Por outro lado, há alturas em que o exagero se torna demasiado, atendendo às circunstâncias, o que faz com que partes da história pareçam demasiado forçadas.
Felizmente, há na evolução do enredo mais que o suficiente para compensar estes momentos de estranheza a mais. Greg consegue ser uma personagem bastante cativante, apesar das suas extravagâncias e, ainda que não haja grandes lições de afecto e amizade, há, ainda assim, um estranho percurso de aprendizagem (que nem sempre vem de Greg, aliás, o que acaba por ser também uma surpresa.) Além disso, a estranheza dos momentos mais caricatos acaba por criar um estranho equilíbrio com as situações mais dramáticas, conferindo à história uma leveza cativante.
E assim, a soma das partes é uma história diferente sobre um tema quase inevitável, uma história em que a doença e a morte iminente contrastam com as infinitas peculiaridades da vida e onde, mesmo quando tudo (ou quase tudo) é estranho, há sempre algo de bom para descobrir. Divertida e interessante, uma boa leitura.
Título: Eu, o Earl e a tal Miúda
Autor: Jesse Andrews
Origem: Recebido para crítica
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