Quando o cadáver de uma jovem é encontrado numa praia, ninguém está à espera das revelações que se seguirão. Não só a vítima está morta há anos, como alguém a tem vindo a manter "viva" para a família, enviando mensagens em seu nome e actualizando a sua presença nas redes sociais. Além disso, uma outra jovem acaba de desaparecer e, apesar do seu historial conturbado, há pistas que apontam no sentido de um desaparecimento que não foi de livre vontade. Para Helen Grace, as pistas são muito claras. Há, mais uma vez, um assassino em série à solta. Mas, meticuloso e experiente, o assassino não parece cometer erros e muitas das pistas levam a becos sem saída. E, como se não bastasse, há quem, no seio da sua equipa, esteja disposto a tudo para subir na carreira. Mesmo a sacrificar a chefe, se for preciso.
À semelhança do que acontece nos volumes anteriores, este é um livro que cativa e surpreende por muitos motivos. O primeiro é, desde logo, o equilíbrio entre uma escrita bastante directa, numa narrativa construída em capítulos curtos, e a forma como esse registo consegue, ainda assim, explorar toda a complexidade das personagens e das suas circunstâncias. Helen Grace é uma mulher complicada e a sua situação é também bastante difícil. Mas é também uma personalidade forte e a forma como inspira lealdades e inimizades torna-se particularmente interessante pela forma como os acontecimentos realçam os seus traços mais vincados.
Também o caso propriamente dito tem muito de interessante, com os motivos e os comportamentos do assassino (vistos dos pontos de vista de vítima e captor) a criarem um contraste bastante vincado com o percurso dos investigadores. Além disso, o percurso entre os vários avanços e recuos na investigação abre caminho a um crescendo de intensidade que culmina num final muitíssimo bem conseguido.
Mais uma vez à semelhança dos livros anteriores, há ainda um outro equilíbrio interessante, este entre os desenvolvimentos do caso propriamente dito e as restantes movimentações e intrigas das várias personagens. A relação com os casos anteriores de Helen é aqui menos explorada, apesar de haver um ponto em particular que assume grande relevância no enredo, mas continua a haver uma conjugação de factores e de figuras - tanto da vida pessoal como da profissional - que tornam a história mais abrangente. E, por isso mesmo, também mais interessante.
Tudo isto se conjuga para dar forma a mais uma leitura compulsiva, em que cada capítulo apela à leitura do seguinte e assim sucessivamente até chegar ao fim. Intenso, surpreendente, com personagens fortes e um enredo sempre intrigante, trata-se, portanto, de mais um livro viciante. E que, mais uma vez, deixa as melhores expectativas para o que se lhe seguirá. Muito bom.
Título: A Casa de Bonecas
Autor: M.J. Arlidge
Origem: Recebido para crítica
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