Viver uma vida criativa está, na mente de muitos artistas, associado a uma via de sofrimento. Mas será que tem mesmo de ser assim? Ou será que as ideias estão em todo o lado, à espera apenas de que lhes demos atenção? E terá tudo o que criamos de ser o melhor - ou o mais sério, ou o mais original... - de todos os tempos? Ou toda a criação é legítima? Estas são apenas algumas das perguntas a que, de forma muito pessoal, mas com uma perspectiva muito interessante, Elizabeth Gilbert responde neste seu livro.
Uma das primeiras coisas a cativar neste livro é a forma como a autora o construiu. Com capítulos curtos e num registo bastante pessoal, transmitindo as suas ideias e, através delas, dando conselhos que para ela resultaram, mas sem entrar numa senda de evangelização forçada. Nalguns casos, as ideias da autora são muito vincadas e é perfeitamente natural não concordar com tudo. Mas é precisamente isto - o facto de se poder ter uma perspectiva diferente e, ainda assim, colher da leitura algumas ideias úteis - que faz com que este livro seja interessante. Não é um guia passo a passo. É uma experiência com as ideias - e, ele próprio, um conjunto de ideias.
Também bastante cativante é o facto de a autora construir grande parte do livro com base na sua experiência pessoal. E não só com conselhos que resultaram, mas com histórias do seu próprio percurso e do de pessoas que conheceu. Ora, além de reforçar as ideias por via do exemplo, isto apresenta também uma sucessão de episódios interessantes, o que torna a leitura muito mais divertida.
Claro que o facto de ser pessoal implica também, até certo ponto, uma base nas crenças da autora. E a forma como a autora vê a criatividade tem bastante de espiritual. Não propriamente de religioso, mas implicando, ainda assim, uma certa ideia de divindade que, para quem não partilhar desse tipo de crença, pode criar uma certa distância. Ainda assim, e se é certo que o espiritual está bem presente nas convicções da autora, o facto de se partilhar ou não dessas convicções não retira valor a todo o vasto conjunto de ideias que vão sendo apresentadas. E, mais uma vez, sendo possível não concordar com tudo, há sempre algo de bom a assimilar.
Da soma de tudo isto, resulta um livro que, pretendendo ser, até certo ponto, um guia para uma vida mais criativa, não cai no erro de apontar linhas inevitáveis, apresentando antes um percurso pessoal a partir do qual é possível a cada um construir o seu próprio caminho. E é isso, principalmente - a vastidão de possibilidades que deixa em aberto - o que mais cativa nesta leitura. Gostei.
Título: A Grande Magia
Autora: Elizabeth Gilbert
Origem: Recebido para crítica