Há quem diga que o estado actual da língua portuguesa é catastrófico e que só tende a piorar. Também há quem encontre erros ao virar de cada esquina e não consiga resistir a corrigi-los com o máximo de severidade possível. Mas será que as coisas são assim tão lineares? E quantos desses supostos erros e ideias feitas não serão, na verdade, uma espécie de mito urbano? A estas perguntas - e a mais algumas - responde este livro, que, bem diferente das habituais listas de erros frequentes e respectivas correcções, abre caminho a uma visão muito mais ampla das verdadeiras complexidades da nossa língua. E do que fazer para escrever cada vez melhor.
De tudo o que este livro tem de cativante, e deixem-me dizer já que é muito, o primeiro aspecto a chamar a atenção é o facto de ser diferente. Não é, de todo, uma lista de erros frequentes ou de regras invioláveis que definem o uso do bom português. Não encara sequer a língua como algo rígido e que se possa reger por simples listas. E fala das regras, claro, bem como da visão das pessoas sobre essas mesmas regras. E de erros, que também existem, claro. Mas fá-lo de uma forma muito mais aberta a expansiva do que é habitual encontrar neste tipo de livros.
Ora, isto é um bom ponto de partida para o que promete ser uma leitura interessante. E é também desta diferença que emerge um outro traço especialmente cativante: a abertura. A forma como o autor expõe as suas ideias, reflectindo a sua forma de pensar, ao mesmo tempo que recorre a exemplos concretos e às mais variadas fontes para a tornar ainda mais clara, revela, não só uma visão muito completa das complexidades da língua portuguesa, mas também uma visão mais tolerante. Isto torna-se particularmente interessante na terceira parte do livro (ainda que esteja sempre presente, de alguma forma), em que discussões facebookianas e outras que tais servem como a base perfeita para reflectir alguns fundamentalismos linguísticos - e a sempre pertinente questão da diferente entre o que está realmente errado e o que só o está "porque eu acho que sim."
E depois, claro, há a escrita em si, que, muito longe do tom mortalmente sério de alguns livros mais académicos, torna a leitura mais leve e a assimilação das ideias mais fácil e divertida. Aliás, há exemplos ao longo do texto que, além de facilmente arrancarem uma gargalhada, tornam mais fácil, pelas suas peculiaridades, assimilar a ideia que lhes está associada.
Com uma perspectiva mais aberta, um conjunto de ideias e de exemplos muitíssimo interessantes e um olhar cativante sobre a história (e os hábitos) da língua portuguesa, a impressão que fica é, pois, a de um livro diferente e com o qual se pode aprender muito. Vale, por isso, muito a pena conhecer estes Doze Segredos da Língua Portuguesa.
Título: Doze Segredos da Língua Portuguesa
Autor: Marco Neves
Origem: Recebido para crítica
Muito obrigado, fiquei sem palavras!
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