Os amigos, a família e o tempo tirado para se estar só. As pequenas coisas que nos fazem felizes, as pessoas, os objectos, os gestos. Os pequenos contratempos e as grandes perdas. A vida, em suma, e tudo aquilo que a compõe. Há um pouco de tudo isto neste livro, em que, de forma simples e pessoal, a autora nos fala dos seus gostos, das suas histórias, da sua forma de olhar para o mundo. E, se é certo que o mundo muda segundo os olhos de quem o vê, também o é que há muito de cativante nesse olhar.
Um dos primeiros traços a destacar-se neste livro é o facto de ser muitíssimo pessoal. São pequenos textos em que a autora fala das suas paixões, daquilo - e daqueles - de que gosta. E, assim sendo, as suas experiências, bem como as suas preferências e pontos de vista, estão sempre muito presentes. Ora, se, por um lado, nalguns casos, isto cria distância, pois todos temos as nossas diferenças, realça também os muitos pontos em comum. Há ideias familiares e outras que são pontos de divergência. E, deste contraste entre o que une e o que separa, surge um retrato pessoal único, do qual emerge também algo de universal.
Ora, pessoal no conteúdo, também na forma se sente este registo, numa escrita simples e intimista em que contam mais os pensamentos do que a voz que lhe é dada. Mas, ainda assim, fluída e cativante, ajustando-se na perfeição ao registo sucinto e ao tom genuíno de quem fala do que sente e do que viveu. Claro, as experiências são pessoais e intransmissíveis. Com os pontos de vista, é possível discordar. Mas há pontos em comum e isso basta para cativar.
Ainda um outro ponto interessante é a forma como a autora aproveita este livro sobre gostar - ou gostar de gostar - para, de certa forma, homenagear as pessoas de quem gosta. Algumas delas são nomes sobejamente conhecidos, o que torna este retrato pessoal particularmente interessante. Mas, mais do que isso, é o afecto que se nota para com os amigos que cativa. E, mais uma vez, dos possíveis pontos de distância, surge algo de universal. Porque os amigos podem ser outros, mas a amizade, todos a conhecemos.
A impressão que fica é, portanto, a de um livro que, apesar de bastante pessoal, consegue transmitir vivências e afectos que, com maior ou menor proximidade, facilmente se reconhecem. E essa proximidade, essa sensação de algo em comum com uma experiência em particular, é mais do que suficiente para fazer com que valha a pena fazer esta breve, mas interessante, viagem. Gostei.
Título: Gosto de Gostar
Autora: Helena Sacadura Cabral
Origem: Recebido para crítica
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