Quando o corpo de uma mulher é encontrado numa floresta, ninguém sabe muito bem o que fazer para a identificar. Apesar da cicatriz que lhe marca o rosto, não há ninguém com aquela descrição que tenha sido dada como desaparecida e ninguém parece andar à procura da morta. Ainda assim, continua a ser preciso descobrir quem ela é. O caso é, pois, entregue a Louise Rick, chefe do recém-formado Departamento de Pessoas Desaparecidas, que, sem outra alternativa viável, decide publicar uma fotografia da mulher. E é dessa fotografia que surge a primeira pista - e o início de um caminho cheio de segredos sombrios...
Centrado essencialmente no caso da mulher desconhecida e partindo desse mesmo caso para tecer um vasto conjunto de ramificações, este é um livro em que uma das primeiras características a sobressair é a forma como o mistério central se cruza com os vários pontos em comum que o caso tem com a vida da protagonista. Para investigar este caso, Louise Rick tem de se cruzar com várias pessoas do seu passado e inclusive de desenterrar feridas antigas. E é daqui que surge a grande força desta história, pois a vida pessoal da protagonista vai-se revelando aos poucos com o evoluir da investigação, criando-se assim um delicado equilíbrio entre o pessoal e o profissional.
Deste caminho de revelações surge um outro traço cativante: é que a distância inicial que se sente para com as personagens vai-se atenuando à medida que estas se dão a conhecer. Louise é uma pessoa reservada e a forma como interage com os colegas mostra bem isso. Mas, à medida que o mistério se adensa, surgem não só os motivos da sua reserva, mas também uma evolução nos seus comportamentos. Ora, isto acrescenta ao enredo um lado mais pessoal, tornando a história cada vez mais envolvente, ao mesmo tempo que insinua grandes possibilidades para os volumes seguintes desta série.
Quanto ao mistério propriamente dito, surpreendente é uma boa palavra para o descrever. Não porque não se criem algumas suspeitas fundamentadas logo de início, mas precisamente porque essas suspeitas acabam por abrir caminho a uma resposta final inesperada. Além disso, há algo de muito perturbador na ideia de um local como Eliselund e do que lá poderia ter sido feito.
A impressão que fica é, por isso, a de um livro que parte de uma certa distância para depois se entranhar, aos poucos, na mente de quem o lê. Intrigante desde o início, cresce em intensidade a cada nova revelação. E, mesmo sem dar todas as respostas, culmina num final cheio de força e que promete muito de bom para o que virá a seguir. Uma boa história, portanto. E uma boa leitura.
Título: As Raparigas Esquecidas
Autora: Sara Blædel
Origem: Recebido para crítica
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