Passaram doze anos desde o famoso (ou infame) caso Amanda McCready e a vida de Patrick Kenzie mudou em muitos aspectos. Mas o passado está prestes a bater-lhe à porta. Primeiro, uma chamada telefónica a meio da noite exige-lhe que volte a encontrar. No dia seguinte, a tia de Amanda aparece para lhe dizer que a agora adolescente voltou a desaparecer. Patrick não se pode dar ao luxo de perder tempo com casos que não lhe trazem qualquer proveito. Mas a sensação de ter feito algo de mal no passado puxa-o de volta ao mistério do desaparecimento de Amanda. E tudo indica que, desta vez, Amanda está longe de ser uma criança inocente.
Sendo este livro o último volume de uma série, e estando directamente relacionado com o caso central de um dos outros livros, é natural que haja ligações e referências a acontecimentos passados ao longo do enredo. Mas uma das primeiras coisas a sobressair nesta leitura é que todos os factos essenciais são referidos. Seja no que diz respeito ao caso de Amanda, seja na relação entre Patrick e Angie, os elementos essenciais vão sendo relembrados ao longo da história, o que faz com que, apesar da curiosidade que fica em saber as origens de certas ligações, não há nenhuma pergunta essencial que fique sem resposta. E, assim, o livro lê-se facilmente sem qualquer conhecimento prévio, até porque o caso que Patrick tem agora em mãos é, tanto quanto se pode perceber, completamente diferente do que envolveu a Amanda de quatro anos.
Outro aspecto que se destaca é que a associação deste caso concreto ao da criança desaparecida doze anos antes cria algumas expectativas quanto ao que se poderá estar a passar. Ora, isto consegue ser bastante enganador, pois permite ao autor conduzir gradualmente o leitor a uma realidade bem mais negra - e bem menos inocente - da qual Amanda é o centro racional e em que tudo é planeado com vista a um fim muito preciso.
Ora, é neste aspecto que fica alguma incerteza, pois, tendo Amanda dezasseis anos, e por mais culta que seja, há nas complexidades dos seus actos tantas possibilidades de algo correr mal que parece um pouco improvável que tudo aconteça como de facto acontece. Isto não retira envolvência à história nem lhe diminui a aura de mistério... mas fica, por vezes, a sensação de um ligeiro excesso de sorte.
Quanto às personagens, sobressaem as interacções invulgares (particularmente entre Patrick e Yefim, mas não só) e a forma como o passado influencia muitas das escolhas que acabam por fazer. Não são propriamente figuras do género de despertar empatia. Ainda assim, as circunstâncias em que se encontram tornam-nas interessantes e adequadas aos papéis que têm para desempenhar.
A impressão que fica é, portanto, a de uma história intrigante, que, apesar de recuperar um caso antigo do protagonista, o transforma em algo completamente novo. E, assim, uma leitura cativante e surpreendente, em que tudo se assimila na perfeição, mesmo sem conhecer o resto da série. Gostei.
Título: Moonlight Mile - A Última Causa
Autor: Dennis Lehane
Origem: Recebido para crítica
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