Chegou o Outono e as casas de férias em Larvik começam a ficar vazias, à medida que os seus donos partem para passar o Inverno noutras paragens. Ficam desertas, o que não pode deixar de ser apelativo para os grupos de assaltantes que rondam o local. Mas algo de diferente aconteceu. Várias casas foram assaltadas, o que não é, em si, nada de muito novo, mas, ao deparar com a casa assaltada, uma das vítimas decidiu dirigir-se à casa mais próxima... para a encontrar também assaltada e com um cadáver lá dentro. O caso torna-se, portanto, mais complexo e o detective William Wisting entra em acção. Primeiro, é preciso descobrir quem é o morto. Mas, quando todas as pistas são contraditórias e novos corpos começam a surgir, as explicações mais simples começam a revelar-se como não sendo necessariamente as verdadeiras. E, como se não bastasse, há pássaros mortos a cair do céu e quem culpe a polícia por isso.
Centrada mais no lado racional da investigação do que propriamente no choque emocional, este é um livro que tem como principais pontos fortes dois aspectos: a complexidade do mistério e a forma como as diferentes competências e papéis dos vários investigadores se conjugam para a melhor condução do caso. Há momentos intensos, é verdade, e situações de perigo que envolvem algumas das personagens, mas o cerne da história é, acima de tudo a resolução do mistério. O acompanhar das pistas, as provas e revelações que vão surgindo, e as capacidades de acção e dedução que levam à descoberta final.
Ora, este percurso mais racional cria uma sensação de maior distância. Há, aliás, um aspecto curioso quanto a esta faceta mais cerebral da história: é que Line, a filha do protagonista, encontra-se numa situação privilegiada para encontrar respostas... ou para se pôr em perigo. E é interessante a forma como o autor vai sustentando esta aura de perigo que pende sobre a cabeça de Line, ao mesmo tempo que conduz a história numa direcção completamente diferente.
Mas voltando à distância. Sim, é verdade que o raciocínio e a capacidade de interpretação dominam claramente sobre a emotividade e a empatia, ficando, por isso, nalguns momentos, a vontade de ver um pouco mais do lado humano das personagens. Mas não deixa de haver também algum espaço para esse aspecto, havendo uns quantos desenvolvimentos interessantes, principalmente no que toca à vida pessoal de Line.
Quanto ao caso em si, sobressai a crescente complexidade de um mistério que começa por se assemelhar a um caso de assalto que correu mal, para depois revelar uma teia de ligações - e de revelações - em que não é fácil adivinhar os verdadeiros papéis de todos os envolvidos. Um mistério em que todas as pistas - e todos os intervenientes - são importantes e em que todos os passos dados fazem sentido.
Intrigante e surpreendente, trata-se, pois, de um livro que, não sendo de grandes choques nem de grandes surpresas, constrói, ainda assim, no seu muito cativante equilíbrio, um enredo em que todas as pistas são relevantes para o desvendar das respostas finais. Uma boa história, portanto.
Título: Fechada para o Inverno
Autor: Jørn Lier Horst
Origem: Recebido para crítica
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