Feita de momentos, de fragmentos, de episódios que quase parecem contar uma história. De impressões que se confundem, que se conjugam num todo tão pessoal quanto universal. Feita de palavras simples, de versos curtos e de uma estrutura em que a liberdade é total. Assim é a poesia deste livro, breve, simples, directa... e muito agradável de ler.
Há, neste pequeno conjunto de poemas, dois aspectos essenciais que se destacam: a liberdade da escrita e a muito interessante fusão de inocência e experiência que parece definir todos os poemas. Tudo o resto varia: cenários, impressões, as emoções que cada poema evoca. Mas estes dois aspectos em comum criam, desde logo, uma sensação de coesão que basta para tornar a leitura interessante.
Mas falemos um pouco mais destes dois pontos centrais. Primeiro a escrita. Quase todos os poemas são relativamente breves, escritos em versos curtos, com pouca ou nenhuma rima e um ritmo que parece nascer mais do pensamento que propriamente de uma métrica definida. Ora, esta total liberdade confere aos poemas um tom mais natural, quase de confidência, nalguns casos, noutros o de alguém que recorda coisas suas. E isto cria uma maior proximidade, pois realça, com a máxima simplicidade, o que há de universal nos momentos e emoções pessoais que em cada um dos poemas são narrados.
A inocência, e a forma como se entretece nas vivências e tribulações de uma perspectiva mais madura, surge nas imagens evocadas, ora de nostalgia, de melancolia, ora quase que de conto de fadas. Imagens aparentemente contraditórias, mas que se conjugam num equilíbrio delicado, reforçando a tal impressão de alguém que recorda a vida, com o optimismo da inocência, mas com as agruras das verdades subjacentes.
Claro que há uma contrapartida neste registo de total simplicidade: é que, nalguns casos, fica a sensação de um mundo maior por explorar. Há imagens, momentos evocados, do quais apenas o mais simples parece vir à superfície, e isso deixa, por vezes, a impressão de uma certa ambiguidade, como se aquilo que é deixado por contar fosse tão importante como o que é de facto dito. Também é certo, porém, que se pode vir isto de outra perspectiva: o que fica por dizer fica entregue à imaginação do leitor.
Breve, simples, quase que inocente... e muito cativante. Assim se poderá descrever este livro. E, acima de tudo, como uma muito agradável viagem a um tempo - ou a um estado de espírito - que lembra tempos mais simples e mais belos, sem nunca deixar a realidade para trás. Gostei.
Título: Impressões
Autor: António Pereira
Origem: Recebido para crítica
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