Mistral Vernati é uma força da natureza. A caminho do seu quinto título mundial de Fórmula Um, não está disposto a permitir que ninguém o detenha. Mas há outros na pista tão ambiciosos como ele e um acidente inesperado provocado pelo seu colega de equipa deixa-o entre a vida e a morte. Enquanto Mistral luta pela sobrevivência, convergem em seu redor as grandes figuras da sua vida. A mulher, que, tendo-se recusado a conceder-lhe o divórcio, está agora disposta a tudo para lhe ficar com o património. A actual companheira, com quem tem em comum um passado atribulado. Os filhos, os amigos, os elementos da sua equipa. E, enquanto todos esperam pela possibilidade de um futuro, o passado começa a vir à superfície...
Com uma história em que o passado dos protagonistas é tão ou mais importante que o presente, este é um livro que vive inevitavelmente das memórias. É, aliás, também este o grande ponto forte desta história: a forma como a autora consegue percorrer, da mesma forma envolvente, o passado e o presente das suas personagens, projectando-as, conforme o momento, à luz da revelação ou nas sombras de um mistério ainda por desvendar. É isto que mantém sempre acesa a vontade de saber o que acontece a seguir, ou então o que aconteceu para levar as personagens àquele ponto. E esta vontade de saber mais prende e nunca mais larga, até ao fim.
Isto é também particularmente interessante se tivermos em conta a construção das personagens. Mutáveis, contraditórias, por vezes difíceis de compreender, é tão fácil sentir por elas uma total empatia como uma distância quase absoluta. E isto para com a mesma personagem, consoante as circunstâncias e aquilo que dela é revelado. Ora, isto humaniza-as, é verdade, mas também revela as suas faltas. E, por isso, a tal sensação de haver sempre algo de novo a descobrir contribui em muito para lhes manter a envolvência.
Ainda um outro aspecto curioso é a forma como a autora entrelaça os dois temas centrais deste livro: as corridas, por um lado, e o mundo das organizações criminosas. Ambos os temas são relevantes e ambos são desenvolvidos de uma forma sempre interessante, realçando os pontos de maior fascínio, sem por isso lhes atenuar o lado negro. E isto leva-me ao ponto, talvez, menos bom: é que (como parece, aliás, ser habitual) a autora deixa umas quantas pontas soltas, o que deixa sentimentos ambíguos. Por um lado, faz sentido que assim seja, pois deixa o futuro à imaginação do leitor.Por outro, fica a sensação de alguns aspectos por explorar e, assim sendo, algumas perguntas deixadas sem resposta.
Haveria mais a dizer sobre estas personagens e a sua história? Provavelmente. Mas, apesar disso, o essencial está bem presente. E a soma de tudo é uma história cativante, com muitos momentos intensos e uns quantos laivos de ternura que ficam na memória bem depois de lidas as últimas palavras. Vale bem a pena, portanto. Gostei.
Título: Como Vento Selvagem
Autora: Sveva Casati Modignani
Origem: Recebido para crítica
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