Quinn Porter sempre foi um pai ausente, em parte pela carreira atribulada de músico, em parte por não saber lidar com as peculiaridades do filho. Agora, o rapaz morreu e Quinn vê-se a braços com a missão de concluir a obra beneficente do filho. Cabe-lhe, pois, tomar conta de Ona Vitkus, a centenária com quem o filho fez amizade no âmbito de uma boa acção dos escoteiros. O que Quinn não sabe é que o que começa por ser uma tarefa acabará por ser uma revelação. O filho e Ona tinham uma missão comum: bater o recorde de condutora mais velha do mundo. E, à medida que começa a conhecer Ona, também ela cheia de peculiaridades e de valor, Quinn começará também a conhecer o filho. E a descobrir que a sua vida talvez não seja bem o que pensava...
Uma das primeiras coisas a chamar a atenção para este livro é a forma como a autora entrelaça vários ramos de várias vidas numa mesma história complexa e equilibrada. Há a história da vida de Ona, a relação dela com o filho de Quinn e com o próprio Quinn. Belle, a relação com Quinn e o luto pela morte do filho. O próprio rapaz, e o que faz dele tão especial. Tudo isto é interessante e a conjugação das partes cria um todo maior. Talvez o resultado não seja perfeito, mas o equilíbrio das partes não anda muito longe disso.
Se há algo que ganha especial relevância numa história como esta é a capacidade de emocionar e é talvez esse o ponto mais intrigante do livro. Percorrendo o presente e vários pontos do passado, nem sempre é fácil acompanhar o crescimento das personagens, mas não há dúvidas de que, no fim do destino, todos os intervenientes são pessoas melhores que no princípio. Mas, mais, nem todas as personagens geram propriamente empatia e, nalguns casos, é difícil compreender as suas decisões. Mas, sejamos realistas, o mundo não é feito só de pessoas boas - nem as pessoas são simplesmente boas ou más. E a forma como a autora desenvolve as suas personagens, fazendo-as crescer, quiçá redimir-se, nalguns casos, e aprender através das provações, é não só algo de muito cativante, mas também uma boa base para vários momentos comoventes.
Em termos de escrita, surpreende a diversidade de registos, bem como o óbvio contraste entre a "gravação" da história de Ona e os restantes capítulos narrados na terceira pessoa. Nestes, sente-se uma maior distância, mas constrói-se uma perspectiva mais ampla. Nos outros, a proximidade inevitável de alguém que revive toda uma longa vida.
Equilibrado será, pois, uma boa palavra para descrever este livro. E cativante, surpreendente e emotivo em todos os momentos certos. Uma história de superação da dor, de descoberta, de crescimento - de vida, em suma, com todas as lágrimas e sorrisos que a contêm... E uma boa leitura, naturalmente.
Título: Um Rapaz Muito Especial
Autora: Monica Wood
Origem: Recebido para crítica
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