Tinha 13 anos e não sabia como continuar a lidar com o assédio dos colegas no dia em que decidiu pôr fim à vida. Sozinha no quarto, Marion Fraisse enforcou-se, deixando junto a si o telemóvel também "enforcado". Decididos a descobrir a verdade - o que aconteceu, como, porque é que ninguém viu nada, ninguém alertou - os pais de Marion embarcaram numa luta pelo conhecimento, para encontrar uma grande quantidade de portas fechadas, pactos de silêncio e incómodo perante a sua persistência. É isso que a mãe de Marion, Nora Fraisse, conta neste livro que pretende ser, ao mesmo tempo, um testemunho pessoal e um ponto de partida para um debate mais alargado.
Sendo este livro um relato verídico contado, provavelmente, pela pessoa mais chegada à protagonista de todos os acontecimentos, o que impressiona nesta leitura é, em primeiro lugar, a crueldade dos factos. O conceito de bullying pode ser recente, mas os comportamentos subjacentes não o são, ainda que, por vezes, pareça haver um agravamento com o passar dos anos. E a forma como a autora conta o que descobriu sobre a vida e as razões da filha, dirigindo-se sempre a ela e narrando sem eufemismos, sem floreados, mas com todo o impacto dos acontecimentos em si, tudo aquilo que descobriu sobre o sucedido e, depois, os muito obstáculos que encontrou na sua luta pela verdade, traça um relato bastante perturbador sobre a forma como a sociedade - ou, pelo menos, a parte da sociedade em que Marion e a sua família viviam - encara este tipo de situações.
É precisamente este relato pessoal o que mais marca, pois há muita emoção presente na forma como as coisas são contadas. E esta emoção torna ainda mais impressionante um conjunto de factos que é, por si só, assustador: o que Marion passou, a forma como uma simples palavra é capaz de provocar o caos, a dualidade de critérios, as dificuldades da própria autora para tentar compreender o que sucedeu... Esta é a história de algo terrível e essa noção nunca deixa de estar presente neste livro. E sendo, como é, uma questão tão relevante, é uma grande qualidade a que este livro tem: a de gravar na memória o impacto deste tipo de acontecimentos.
Trata-se de um caso que aconteceu em França, o que significa que, na parte que a autora dedica às considerações sobre possíveis leis e mudanças no sistema de ensino, haverá, inevitavelmente, algumas diferenças entre os diferentes países. Fica, aliás, uma certa vontade de saber mais sobre de que forma se combatem esta situações por cá. Mas, sendo certo que estas diferenças realçam o facto de ter acontecido "noutro lugar), também é verdade que os factos em si podiam acontecer em qualquer lado. E a forma como a autora aborda esta faceta do tema - tentando perceber o que fazer e o que mudar para que casos como os de Marion não se repita - é também parte do que torna esta leitura memorável. Pois, além da tragédia, há a reacção. De lutar pelas respostas, mas também de lutar pela mudança.
Breve, escrito com toda a força da emoção e transmitindo em pleno a mensagem que pretende passar (ainda que, no que respeita aos aspectos judiciais, fiquem questões em aberto - porque o processo parece ainda não ter terminado), trata-se, portanto, de um livro que cumpre plenamente os seus dois objectivos: dar testemunho da história de Marion e alertar para a existência e para as consequências do assédio. Vale, pois, a pena conhecer esta história. E pensar em todas as outras que, infelizmente, talvez fiquem por contar.
Título: 13 Anos para Sempre, Marion
Autora: Nora Fraisse
Origem: Recebido para crítica
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