Quando recebe a notícia de um incêndio no 221B de Baker Street, Watson teme o pior. E o que realmente encontra não está muito longe disso. Abatido pela falta de trabalho, Holmes voltou aos velhos vícios e Watson já não sabe como o ajudar. Mas eis que chega uma carta codificada de Paris, escrita por uma cantora famosa que precisa da ajuda do grande detective para recuperar o filho. O caso é complexo, e funde-se com outros interesses. E isso basta para devolver Holmes à sua bela energia. Mas há também muitos perigos à espreita nesta investigação. E, quando ninguém é o que parece e há quem tenha mais poder do que devia, até o mais pequeno erro pode revelar-se fatal.
Não são precisas grandes apresentações no que diz respeito aos protagonistas deste livro. São, eles, aliás, um dos primeiros pontos a despertar curiosidade - e também a surpreender - neste Arte no Sangue. Curiosidade, porque sendo personagens intemporais, surge desde logo o interesse em saber se a autora os representa à altura da sua lenda. E surpresa, pela forma como a resposta a esta pergunta se vai revelando.
Sherlock Holmes é neste livro o mesmo que nos casos originais de Sir Arthur Conan Doyle? É, sem dúvida. E é também mais, pois este caso, e a forma como a autora o constrói, revelam uma outra faceta do grande detective. Sem nada negar da sua identidade - as lendárias capacidades dedutivas, a racionalidade e o pragmatismo incontornáveis, a falta de paciência para formalidades e conversas de circunstância que o façam perder tempo - a autora apresenta um outro lado de Sherlock: o lado vulnerável, frágil, falível. Que também não é inteiramente novo (nem poderia ser, pois faz parte da personagem), mas que ganha um destaque particularmente marcante na construção deste muito intrigante caso.
O que me leva ao caso em si e à forma como a autora constrói uma teia de mistérios complexa e fascinante, em tudo à altura do seu protagonista. O caso da estátua, a criança desaparecida e todos os outros novos enigmas que vão surgindo com o desenrolar da narrativa, conjugam-se num equilíbrio delicado e sempre intrigante, em que, a cada passo, há algo de novo a descobrir, novos perigos a enfrentar e consequências... por vezes inimagináveis. E, assim, à racionalidade impiedosa de Sherlock Holmes junta-se uma intensidade emocional surpreendente. E a soma das partes torna-se assim mais vasta, mais intensa, mais impressionante.
É sempre um prazer regressar a estas personagens, principalmente pela mão de um autor que lhes faça justiça. E é isso mesmo que acontece neste livro, que, intrigante desde as primeiras páginas e surpreendente até ao fim, cativa desde muito cedo e fica na memória bem depois de lidas as últimas linhas. Recomendo.
Título: Arte no Sangue
Autora: Bonnie MacBird
Origem: Recebido para crítica
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