Ao ver o Isaías pela primeira vez, o que a maioria das pessoas faz é gritar. Primeiro, porque ele é um rato. E, além disso, porque é azul. Mas não é essa a única diferença do Isaías: é invulgarmente esperto e sabe ler e escrever. Qualidades que lhe serão bastante úteis, quando, após a tentativa de fuga da sua família, ele se vê sozinho no exterior, depois de todos os seus muitos irmãos terem sido novamente capturados e levados para o laboratório. Ora, o Isaías não é propriamente corajoso - ou, pelo menos, é isso que pensa. Mas, com muitos perigos pela frente e bons amigos à espera de serem descobertos, o pequeno ratinho talvez esteja prestes a descobrir que ser corajoso é muito, muito diferente de não ter medo.
Num registo completamente diferente (mas não propriamente invulgar) daquilo que eu conhecia de James Patterson, uma das primeiras coisas a chamar-me a atenção neste livro é que continua a ser fácil reconhecer os habituais traços característicos: capítulos curtos, escrita directa, acção constante. E é interessante, desde logo, reparar que este estilo de escrita resulta tão bem neste tipo de história como nas suas muitas séries de thrillers viciantes. Mas, se da escrita não há muito mais a mencionar, além deste estilo directo e simples que se ajusta perfeitamente também a este tipo de história, sobre o enredo em si há certamente mais a dizer.
A história deste Palavra de Rato é, na sua essência, muito simples: um rato de laboratório que descobre a liberdade - e os perigos - do mundo exterior, encontra inimigos e aliados e tem de escolher entre fugir para longe do perigo ou enfrentá-lo e salvar a família que ficou para trás. E basta esta visão sucinta para reconhecer os elementos que sobressaem: primeiro, a importância da coragem face aos perigos e dificuldades, e segundo, a importância da amizade e da família. Mas há mais: a situação da família de Isaías levanta a questão do que se passa nos laboratórios em que se fazem experiências com animais. E a cor de Isaías, bem como a reacção geral dos humanos aos ratos, realçam a importância de lidar com a diferença, reconhecendo, acima de tudo, o seu valor e a existência de pontos comuns.
Mas há mais. É que todas estas questões pertinentes vão surgindo ao longo de um enredo em que há sempre qualquer coisa a acontecer, seja uma fuga pela vida, uma situação inusitada (e divertida) ou a descoberta de um qualquer sentimento inesperado. E é isso que torna a história tão interessante, pois as ideias transmitem-se melhor pelo exemplo que pela palavra. E a forma como a história é narrada (e ilustrada, neste caso, pois as ilustrações acrescentam também envolvência à história) torna essa mensagem mais clara. Demasiado simples, às vezes? Sim, fica a vontade de saber mais sobre algumas das personagens. Mas o essencial está lá - e é mais do que suficiente.
A impressão que fica é, portanto, a de uma história leve e divertida, mas com muitas questões relevantes em pano de fundo. Uma história de amizade e de coragem para lá do medo e da diferença, que vale bem a pena ler. Gostei.
Título: Palavra de Rato
Autores: James Patterson e Chris Grabenstein
Origem: Recebido para crítica
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