sexta-feira, 7 de abril de 2017

Filhos do Vento e do Mar (Sandra Carvalho)

Forçada a deixar para trás o único lar que conheceu, e após algumas desventuras inesperadas, Leonor cruza-se com Corvo, o temível pirata sobre o qual ouviu os mais imensos horrores. E, sem alternativa a não ser embarcar no seu navio, a única opção que se lhe afigura é disfarçar-se de rapaz e manter a farsa até conseguir uma hipótese de fugir. Só que, além de não ser parvo nenhum, Corvo também não é o monstro sanguinário das histórias. E, à medida que descobre que as suas hipóteses de fuga são escassas, começa a entender também que fugir não é a melhor opção. A tripulação do Rouxinol é uma família - e, sendo ela filha do Açor, podia muito bem vir a ser a sua. Mas... como reagirá o capitão quando souber que ela lhe mentiu desde o início?
Um dos traços essenciais dos livros desta autora, e uma das suas maiores qualidades, é a capacidade de despertar emoções fortes, não só através de reviravoltas no enredo,mas do próprio crescimento das personagens e da empatia que estas despertam. Este livro não é excepção. Aliás, passando-se grande parte do enredo a bordo do navio de Corvo, a autora coloca a sua protagonista num ambiente fechado,  onde não tem grande alternativa a interagir com aqueles que os rodeiam. E isto tem sobre Leonor um efeito quase que milagroso: se os preconceitos que a movem de início conseguem ser um bocadinho irritantes (e isso reflecte-se, aliás, nas outras personagens) a forma como as suas percepções e sentimentos mudam despertam uma empatia crescente. Além disso, à medida que ela descobre os segredos das outras personagens - e de Corvo, em particular - o impacto emocional das tribulações passadas sai também reforçado.
Mas, se Leonor começa a conquistar simpatia aos poucos, já Corvo é o tipo de personagem que cativa de imediato. Sombrio, atormentado pelo passado, mas evidentemente com o coração e os valores no sítio certo, é o tipo de personagem que equilibra na perfeição os problemas de Leonor. A superioridade moral que Leo julga ter é posta à prova a cada nova revelação sobre o Corvo. E o resultado são vários momentos emotivos, que se expandem também a episódios de ternura e humor quando os outros membros da tripulação se juntam à festa.
Quanto ao enredo, ficam, é claro, muitas perguntas em aberto, ou não estivesse para vir um terceiro volume. Mas, sendo, até certo ponto, um livro de transição entre o passado de Leonor (e, agora, também o de Corvo) e as resoluções que fatalmente virão, cativa, principalmente, porque tudo o que acontece é pertinente, ainda que o objectivo da viagem do Rouxinol possa parecer um aspecto secundário. A missão de Corvo pode não estar directamente relacionada com as grandes vinganças juradas, mas serve um objectivo relevante: por um lado, preparar Leonor para o que tem pela frente; por outro, criar elos de ligação num destino comum. O resto... o resto fica para descobrir no próximo livro.
A imagem que fica é, por isso, a um livro que não desilude. Intenso, emotivo, repleto de momentos marcantes e também com o toque certo de humor, cativa desde as primeiras páginas e nunca deixa de surpreender. E, claro, cria as melhores das expectativas para o que se poderá seguir. Muito, muito bom. 

Título: Filhos do Vento e do Mar
Autora: Sandra Carvalho
Origem: Recebido para crítica

Para mais informações sobre o livro Filhos do Vento e do Mar, clique aqui.

1 comentário:

  1. Oi Bem se eu já estava curiosa em relação a este livro, agora estou mesmo ansiosa para o ter mas ainda tenho que ler o primeiro... Excelente opinião gostei imenso... Espero em breve poder comprá-lo...
    http://redroselovepeaceandwrite.blogspot.pt
    Um bj,
    Patrícia Lourenço Ferreira
    (autora de Ameaça de Um Anjo)

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