Vidas para além da presente e um passado que parece perpetuar-se nas evocações do sonho. E palavras, palavras que querem ser poema e que parecem moldar-se ao ritmo de um quase misticismo. São estes os elementos base deste conjunto de poemas que, unidos num todo coeso, mas em que cada parte é também ela uma unidade, dão forma a uma viagem através da mente e dos seus labirintos.
Não é fácil falar sobre este livro sem desvendar demasiados dos seus mistérios. Breve no conjunto e nas unidades que o compõem, é um livro onde a simplicidade aparente dá lugar ao que parece ser uma vasta viagem mística pelos meandros dos sonhos. E o mais interessante é que, sem grandes imposições de ritmo ou métrica, quase que deixando as palavras falarem por si mesmas, o autor consegue conferir aos poemas uma fluidez estranhamente cativante.
Fluidez esta que parece ajustar-se na perfeição às imagens que evoca, como que de um transe onírico em que o mundo se desdobra em múltiplas realidades. E é aqui que entra o misticismo, pois as referências a conceitos esotéricos estão bem presentes em quase todos os poemas. Referências estas que realçam um outro contraste: o da vontade de introduzir estes elementos com a naturalidade com que os apresenta, sem que o poema se torne demasiado rebuscado ou perca a simplicidade natural.
E tudo isto converge num equilíbrio maior. A simplicidade da forma, a estranheza das imagens evocadas, a forma como tudo parece natural, mesmo quando o cenário é, no mínimo peculiar. E, claro, a forma como parece haver um elo comum entre todos os poemas, sem que, por isso, eles se tornem repetitivos. Como se cada poema fosse um objecto individual e completo, mas todos formassem a trama do estranho mundo a que pertencem.
No fim, fica uma imagem de contrastes: de um todo feito de múltiplas pequenas partes, em que cada uma evoca um cenário único e intransmissível. De uma viagem por tempos e mundos - interiores e exteriores, presentes, passados e futuros. E, acima de tudo, do equilíbrio entre a vastidão do todo e a simplicidade das pequenas coisas. Um todo em que tudo cativa e nada parece estranho - por mais distantes da realidade quotidiana que estes mundos interiores pareçam estar. Muito bom.
Título: Metanoia
Autor: Tiago Moita
Origem: Recebido para crítica
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