Recém-casada e movida pelos melhores dos sentimentos, Gwendolyn Hooper aceita deixar o seu país para se juntar ao marido do outro lado do mundo. Leva consigo sonhos de harmonia e o amor que a levou a tomar uma decisão tão drástica. Mas, ao chegar a Ceilão, descobre que nada é como esperava. A plantação de chá, além de exigir a Laurence todos os esforços, parece governar-se por regras dúbias e funcionários ressentidos. Laurence parece-lhe cada vez mais ausente e a irmã dele, demasiado apegada para o seu próprio bem, revela-se a cada dia mais instável. E tudo aponta para um segredo bem escondido no passado do marido - segredo esse que Gwen só começa a entender quando se vê ela própria na necessidade de esconder o seu. A harmonia inicial deu lugar à intriga e ao medo. E, quando a verdade vier ao de cima, será possível ignorar as consequências?
Uma das primeiras qualidades a chamar a atenção neste livro (que é todo ele cheio de qualidades) é a forma como a autora conjuga um contexto histórico delicado com o percurso pessoal das suas personagens, levantando questões pertinentes sobre o contexto em que vivem ao mesmo tempo que desenvolve um enredo que, ainda que influenciado por esse mesmo contexto, contém em si algo de intemporal. O contexto é relevante, sem dúvida, até porque há segredos relacionados com ele. Ainda assim, é fácil compreender as personagens, apesar da distância temporal, e isso torna tudo muito mais fascinante.
Outra grande qualidade é a capacidade de gerar emoção, não apenas nos momentos mais dramáticos, mas também nas pequenas coisas que, aos poucos, vão contribuindo para revelar a verdadeira complexidade do enredo. Há mais que um segredo a desvendar, muitas intenções escondidas a entender, figuras que estão longe de ser o que parecem. E cada nova revelação desvenda novas possibilidades, despertando assim novas dúvidas no espírito das personagens, novas formas de reagir, o que faz com que cada momento acabe por marcar de modo diferente.
Claro que para isto contribui também a construção das personagens e, em particular, a capacidade que a autora lhes confere de despertar sentimentos fortes. Gwen, em particular, no seu abandono de tudo o que conhecia para começar uma nova vida do outro lado do mundo, cativa, desde logo, pela vulnerabilidade, o que cria desde muito cedo uma certa solidariedade para com as suas circunstâncias. E, à medida que os acontecimentos se sucedem e novas revelações têm lugar, essa empatia transforma-se em algo de mais vasto, que tanto permite reconhecer o impacto das decisões erradas como as razões que as poderão ter motivado.
E há ainda a escrita, envolvente, evocativa, transmitindo na perfeição a beleza dos cenários, a intensidade das emoções, o contraste entre modos de vida e os dilemas interiores das personagens. É uma voz que se ajusta na perfeição ao enredo, que lhe dá vida, que o torna marcante e memorável. E é ela, no fim de tudo, que une todas as muitas componentes deste livro onde tudo parece fascinar.
Dificilmente se poderia pedir mais a este livro. Intenso, emotivo, intrigante. Complexo, quer no contexto, quer nas personagens, quer ainda na intriga em cujos fios estas parecem mover-se. E tão surpreendente nas revelações dramáticas como nas pequenas coisas. Que mais dizer desta pequena maravilha? Que vale muito a pena. Mesmo, mesmo muito. Maravilhoso.
Título: A Mulher do Plantador de Chá
Autora: Dinah Jefferies
Origem: Recebido para crítica
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