segunda-feira, 5 de junho de 2017

A Educação de Eleanor (Gail Honeyman)

Eleanor Oliphant não tem problemas com a solidão. Vive calmamente no seu canto, sem ninguém que a incomode, e está perfeitamente bem assim. Ou... será que não? Sempre se habituou a viver com os seus hábitos e as suas peculiaridades, com a interacção social reduzida ao mínimo indispensável (ou não fossem todos aqueles com quem contacta um pouco bizarros aos seus olhos). Mas tudo muda no dia em que precisa de ajuda com o computador do trabalho e conhece Raymond, que não parece perceber os seus sinais de que deseja estar sozinha. E quando se vêem na necessidade de ajudar um idoso que desmaiou em plena rua, Raymond e Eleanor acabam por conhecer novas pessoas. Eleanor começa a descobrir um outro lado de si mesma. Mas, para superar o passado que tão habilmente escondeu, precisará de pôr de parte todos os planos - e todos os preconceitos.
Há ao longo de todo este livro, e em reflexo da vida da sua protagonista, uma dualidade complexa, assente num equilíbrio delicado. Por um lado, Eleanor, com a sua aversão à vida social e as suas manias peculiares, proporciona vários momentos caricatos e divertidos. Por outro, há um lado negro à espera de emergir, não só no passado que ela carrega consigo (e cujos mistérios ela própria não compreende) como nas consequências que este tem sobre o presente. O contraste dificilmente podia ser maior e a delicadeza com que a autora equilibra estas duas facetas, proporcionando momentos de humor e de emoção, arrancando gargalhadas ou fazendo com que o coração se aperte um bocadinho, é um dos aspectos mais memoráveis nesta leitura.
Isto significa que é no aspecto emocional que este livro é mais marcante. Mas não fica por aí. Há muito de cativante na construção das personagens e na forma como, através dos olhos de Eleanor, a autora as retrata no que têm de mais marcante, realçando-lhe, mais que os traços essenciais, as acções em que esses traços se revelam. E há um pouco de tudo: das mais invulgares aos simplesmente malévolas, passando por todos os tons de cinzento que moldam as várias personalidades. E, numa história em que ninguém é perfeito, cativa a perfeição com que essa falibilidade é construída.
Quanto à história, surpreende, é claro, o percurso de Eleanor e a forma como a mudança tanto pode acontecer com grandes revelações como com pequenos gestos. E surpreende também o facto de, apesar de ficarem algumas perguntas no ar, a forma como tudo se encerra, algures entre a esperança e as óbvias possibilidades, parecer perfeitamente adequada ao que é, afinal, um percurso rumo a uma vida melhor. E a vida continua sempre, não é?
Tudo somado, fica a imagem de uma história de superação e de descoberta, em que todos os caminhos se abrem (mas nunca da forma mais fácil) para uma nova Eleanor Oliphant. E é tão bom acompanhar esta tão invulgar (mas tão cativante) protagonista! Muito bom. 

Autora: Gail Honeyman
Origem: Recebido para crítica

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