Agora que tantos portugueses voltaram a descobrir os encantos da vida no campo, é preciso voltar a ler-se Júlio Dinis. Ainda que a história se centre em Madalena, a morgadinha, uma mulher de carácter forte e virtuoso, o enredo inicia-se com a vinda de Henrique de Souselas, um hipocondríaco de manias citadinas, para casa da tia Doroteia, numa aldeia minhota, por conselho do seu médico. O autor ilustra, assim, uma das suas teses predilectas: o efeito regenerador da vida simples do campo sobre a citadina.
São infinitas as lições de vida que podemos retirar da obra: desde a intriga amorosa, com ciúme à mistura, a honra ferida por injustas calúnias, a crítica social e de costumes. Mas Júlio Dinis glosa também tópicos como o do compadrio, o caciquismo, o recurso à cunha, a corrupção política, o fanatismo religioso.
Venha conhecer as salas de famílias da aldeia; tome um chá na casa do Mosteiro, saboreie uma boa canja na casa de Alvapenha, assista em directo às brigas na casa de Zé P’reira, peça conselho ao tio Vicente sobre a melhor mezinha, tome um copo na venda do Canada e, se é devoto ou tem fé, vá até à igreja, mas deixe-se de fanatismos.
Prometemos um final feliz, como era timbre do autor. Leia-o!
Júlio Dinis. Joaquim Guilherme Gomes Coelho, verdadeiro nome de Júlio Dinis, nasceu no Porto, em 14 de Novembro de 1839. Era filho de um cirurgião, José Joaquim Gomes Coelho, e de Constança Potter, que morreu cedo, deixando-o órfão aos seis anos. Em 1861, termina o curso de Medicina na Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Nessa época, já sofria de tuberculose, o que o levou a sair do Porto, começando a escrever. Inicia a actividade literária em 1862, publicando breves narrativas no Jornal do Porto. Torna-se professor de medicina na escola onde se formou em 1865. Morreu em 1871, aos 31 anos, vítima de tuberculose. Publicou quatro romances: As Pupilas do Senhor Reitor (1866), Uma Família Inglesa (1867), A Morgadinha dos Canaviais (1868), e Os Fidalgos da Casa Mourisca (1871).
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