Eadlyn sempre pensou que a sua condição lhe dava todos os direitos, mas bastaram alguns acontecimentos dramáticos e o seu mundo desabou. Agora, com a mãe a recuperar lentamente e o pai temporariamente afastado do trono, Eadlyn tem de assumir o papel de regente. O problema é que ela não é propriamente popular entre o povo e a verdade é que começa finalmente a dar-se conta de que não fez muito por isso. Com a Selecção reduzida a um grupo mais restrito e o destino do país nas mãos, Eadlyn terá de encontrar uma forma de conquistar o seu povo - sem que isso lhe custe o coração pelo caminho.
Sendo este o último volume de uma série que foi até à segunda relação, este é o livro de que se esperam todas as respostas. Mas uma das primeiras coisas a sobressair em A Coroa é, mais do que a forma como tudo se resolve, a evolução que acontece na personalidade e no comportamento da protagonista. Algumas duras verdades depois, Eadlyn é agora uma personagem mais empática e sensível - e essa empatia passa para o leitor, o que torna muito mais fácil sentir curiosidade pelo seu percurso e sentir os seus dilemas e dificuldades. O resultado é, claro, uma maior proximidade emocional e também uma maior naturalidade na forma como as coisas evoluem.
Ultrapassados os problemas de Eadlyn (que, diga-se, acabaram por ter o efeito inesperado de tornar mais notável a sua evolução), acabam por ganhar um novo destaque também as figuras que a rodeiam. Dos pais de Eadlyn, surge o exemplo da relação duradoura, bem como algumas revelações inesperadas. Da Elite, uma diversidade de temperamentos que, mesmo não sendo explorados a fundo, conseguem dar forma a momentos bastante marcantes. E dos restantes elementos da vida de Eadlyn - amigos, família, conselheiros, rivais - surge uma teia inesperadamente intrigante de apoios e intrigas que, embora desenvolvida de forma relativamente simples, confere, ainda assim, uma maior intensidade à história.
Mas voltando às tais respostas. Não se pode dizer que o desenlace seja propriamente inesperado, já que o rumo dos acontecimentos é, de uma forma global, um pouco imprevisível. Ainda assim, não deixa de ser interessante ver a forma como, mesmo quando as grandes reviravoltas são fáceis de antever, há nas pequenas coisas que as rodeiam o suficiente para prender a atenção e manter acesa a curiosidade. Além disso, o contexto global pode ter ficado para segundo plano (como tem sido, aliás, característico desta série), mas o percurso pessoal tem as suas próprias surpresas. E a maior delas acaba por ser mesmo a forma como Eadlyn acaba por mudar.
Tudo somado, fica a impressão de uma série que termina no seu melhor momento, dando finalmente forma às melhores qualidades das personagens e construindo-lhes um enredo em que o caminho pode estar definido à partida - mas há, ainda assim, magia à espera nas pequenas coisas. Leve, cativante e de leitura agradável, uma boa conclusão para esta série.
Título: A Coroa
Autora: Kiera Cass
Origem: Recebido para crítica