Alfredo trocou a aldeia pela cidade em busca de uma vida melhor, mas os anos passaram e ficou apenas o desencanto e a solidão. Agora, deambula pelas ruas, apenas com a sombra por companhia, e tenta entender o seu lugar no mundo. Sozinho, pondera sobre a sua vida e a do mundo que o rodeia - mas um reencontro inesperado leva-o a questionar o que nunca antes questionou...
Muito breve e centrado mais na vida interior do protagonista do que propriamente em movimentos e acções, este é um livro em que o elemento fundamental é o pensamento. O pensamento que leva a Alfredo a recordar e a questionar o que fez e não fez, a comparar o lugar onde vive com o que deixou e as marcas que o tempo traçou nessas diferentes recordações. E, sendo certo que algo se perde pela brevidade - seria interessante conhecer mais a fundo o percurso efectivo do protagonista, para lá da forma como ele se vê - , também o é que este mergulho no interior faz especial sentido se se tiver em conta que a história de Alfredo - de deixar tudo para trás em busca de algo melhor que acaba por não se encontrar - poderia ser a de muitas outras pessoas.
É interessante, por isso, que marquem mais os sentimentos que a acção - ainda que haja um elemento presente que, apesar da brevidade, consegue acrescentar à narrativa um intrigante elemento de mistério. E os sentimentos de Alfredo são tão vastos quanto sombrios, contendo o espaço de uma vida inteira nas memórias de um dia - e em poucas dezenas de páginas. Fica alguma curiosidade insatisfeita quanto ao resto, mas a verdade é que o essencial parece estar lá, no deambular de Alfredo e na forma como o autor dá voz aos pensamentos e desilusões do seu protagonista.
Não é uma história que dê todas as respostas, até porque o mais importante parecem ser precisamente as perguntas. Mas fica, da solidão do protagonista, uma imagem precisa da melancolia de quem deixa tudo para trás e vai à procura, para encontrar algo bem diferente do que esperava. E é essa impressão de melancolia, mais que as partes da jornada que ficam por contar, que se demora no pensamento depois de terminada a leitura.
Breve, mas cativante. Simples, mas pertinente. Assim é, pois, este Que Sombra te Acompanha. Uma leitura rápida, mas cheia de sentimento e de introspecção. Uma boa história, em suma.
Título: Que Sombra te Acompanha
Autor: Tiago Gonçalves
Origem: Recebido para crítica
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