domingo, 15 de julho de 2018

A Mulher de Einstein (Marie Benedict)

Mileva Maric sabe que as suas origens e a condição de mulher serão sempre um obstáculo ao seu sonho de uma vida de sucesso no mundo da ciência, mas não está disposta a deixar-se travar por qualquer barreira. É por isso que, quando chega a Zurique para frequentar o curso de física, leva também consigo a determinação necessária para enfrentar todos os problemas e humilhações. Não está à espera é de se apaixonar pelo seu pouco convencional, mas estranhamente encantador, colega. Albert Einstein não é como os outros homens e promete-lhe, além do seu afecto, uma vida de companheirismo e de colaboração científica. E, apesar da resistência inicial, Mileva acaba por deixar-se encantar. Só que o sonho começa a tornar-se cada vez mais difícil e Albert está muito longe de ser o cavalheiro por quem Mileva se apaixonou...
Basta a premissa deste livro para despertar uma certa curiosidade para a história: afinal, é sabido que há muitas mulheres cujo papel nos avanços científicos do seu tempo foi passado para segundo plano ou deixado no anonimato. E, ao acompanhar a história de uma dessas figuras, a autora constrói, logo à partida, um enredo cativante e cheio de potencial. Criam-se expectativas e, embora nem tudo seja fácil de assimilar, essas expectativas são totalmente atingidas, no que é uma leitura envolvente, surpreendente e repleta de momentos emotivos.
Era apenas de esperar uma visão diferente da que normalmente vem à cabeça ao pensar em Einstein. Mas não é apenas diferente: é perturbadora. O Albert Einstein deste livro está longe de ser apenas o académico brilhante, embora tenha ainda também a natural medida de brilhantismo. O que fica deste retrato é um homem que começa por ser encantador, mas que se transforma em alguém cruel, indiferente e centrado apenas nos seus próprios feitos. O que cria, é certo, uma certa distância, pois a história passa do companheirismo científico para um percurso familiar condenado ao fracasso. Mas também uma história emocionalmente intensa, pois torna-se assustadoramente fácil sentir com Mileva - e por Mileva.
E, sendo verdade que nem sempre é fácil gostar das personagens, ou entender as decisões que tomam, esta visão tudo menos simples e alegre de uma relação que se transforma em pesadelo ganha outro impacto por ser protagonizada por um dos grandes da ciência. Além, é claro, da forma sempre intensa e surpreendente que a autora tem de dar aos momentos mais emotivos o máximo impacto possível. Mais que uma história de ciência, é também uma história de descoberta pessoal e de desencanto, de amor e desilusão, de perda e de reconstrução. E no fim é isso que fica na memória - a intensidade das emoções e as sombras que se escondem sob uma aparente harmonia.
Cativante, com momentos belíssimos e um enredo capaz de construir para uma das grandes descobertas científicas toda uma nova possível perspectiva, trata-se, pois, de uma leitura surpreendente, com personagens que, nem sempre fáceis de compreender, se entranham, apesar de tudo, da memória. Uma boa história, portanto, e uma que vale a pena ler.

Autora: Marie Benedict
Origem: Recebido para crítica

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