quarta-feira, 8 de agosto de 2018

As Vantagens de Ser Invisível (Stephen Chbosky)

Aos quinze anos e introvertido por natureza, Charlie não tem propriamente facilidade em fazer amigos, mas, apesar de não se sentir assim tão desconfortável com a sua invisibilidade, está a tentar "participar". E é isso que o leva a conhecer Patrick e Sam, dois irmãos finalistas que lhe vão abrir as portas do estranho mundo da adolescência - e não só. Charlie não tarda a apaixonar-se por Sam, mas ela é mais velha e é bem clara quando lhe diz que não pode haver nada entre eles. Ainda assim, a amizade desenvolve-se e, com ela, uma série de partilhas, segredos e experiências mais ou menos perturbadoras. É que há razões para Charlie ser como é. E, à medida que cresce, às vezes mesmo sem se dar conta, há elementos de um passado reprimido que ameaçam vir à superfície.
Escrito na forma de cartas a um destinatário desconhecido, uma das primeiras coisas a chamar a atenção neste romance é a forma como a escrita evoca na perfeição o caos interior do protagonista. Aos quinze anos, Charlie está a passar por uma série de mudanças e, além disso, as suas experiências conferiram-lhe uma série de hábitos próprios. Ora, isto transparece na perfeição das cartas, não só pelos acontecimentos nelas narrados, mas pelo próprio registo. E o resultado é a sensação de partilhar um pouco dos sentimentos confusos de Charlie, entrando assim na sua vida e participando das suas dificuldades.
Também interessantes são os muitos reflexos da época em que a história decorre, com objectos como as cassetes a evocar uma espécie de nostalgia. E a própria forma de estar no mundo das personagens, com a maior tolerância ao tabaco e ao álcool, os preconceitos ainda vigentes, mas então ainda mais arraigados, e um sistema de comunicação ainda consideravelmente mais limitado, a fazer lembrar um passado não muito distante, onde tudo parece ser diferente, mas os dramas e dilemas continuam a ser semelhantes.
E depois há o lado sombrio por trás dos aparentes pequenos dramas da adolescência. O grande segredo de Charlie, que ele próprio não lembra, de início, mas também as experiências partilhadas e a profunda disfuncionalidade escondida sob uma aparente normalidade adolescente. Experiências que surgem em tão grande abundância que chega a ficar a sensação de haver demasiado a acontecer numa história que não é assim tão extensa.
No fim, ficam algumas perguntas sem resposta, mas também uma imagem de fim de ciclo. De um ano que termina, para dar lugar a outro, com mais verdades assimiladas e, assim, novas possibilidades. É esta a marca que fica desta história: a de que a vida - e o crescimento - continuam, apesar dos traumas. E o que não mata... às vezes torna-nos mesmo mais fortes. 

Autor: Stephen Chbosky
Origem: Recebido para crítica

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