Gus trabalha numa loja de discos enquanto procura encontrar a sua inspiração como escritor, e não está muito interessado em grandes momentos de socialização. Mas tudo muda no dia em que conhece Clara. Também à procura do seu lugar no mundo, Clara transborda de vida e a necessidade faz com que os dois acabem a viver na mesma casa. Da proximidade, nasce a paixão e um amor que prometia durar para sempre. Mas nada é eterno. E a vida em comum começa a desmoronar - não com estrondo, mas com uma multiplicidade de silêncios...
Parece ser uma história muito simples - a história de um amor jovem a nascer - e é quase num tom de leveza que esta leitura começa por emergir. Mas, se olharmos com atenção, há todo um mundo de verdades difíceis e actuais por detrás desta história. Tantas que, pese embora a sensação que desde cedo se manifesta de que nem tudo virá a ter uma resposta, há todo um mundo na história destas personagens.
Às diferenças de personalidade e de forma de encarar a vida, acrescentam-se as dificuldades do mercado laboral, as inevitáveis dores de crescimento, a sensação de se estar sozinho contra o mundo e de a vida poder ser, às vezes, demasiado pesada. E isto não acontece apenas com Gus e Clara, mas também nas histórias dos seus amigos mais próximos. É, aliás, aqui que fica a tal curiosidade insatisfeita, pois haveria talvez mais a dizer sobre estas personagens. Ainda assim, faz um certo sentido que assim seja: afinal, também na vida não sabemos o final de todas as histórias.
Mas voltando a Gus e Clara - e à sua história de amor e desamor. Quase parece haver uma vida inteira na história que nos é contada e, todavia, tudo surge com a máxima simplicidade. Os diálogos são reduzidos ao mínimo e também no movimento, nas expressões, nos próprios cenários se sente esta redução ao essencial. E porém ajusta-se. Pois, numa história tão feita de silêncios - os silêncios do amor que não precisa de palavras, do crescimento que se insinua sem darmos conta, do afastamento que se vai moldando aos poucos - faz todo o sentido que as grandes verdades se manifestem com a mesma discrição. A mesma que se vê nos diálogos sucintos, mas também num traço e num tom que quase parecem conter toda a melancolia da vida.
Parece uma história simples, mas é isso que a torna universal, pois amor, crescimento e desamor são uma parte inegável da vida. E é isso, no fim, que dá tanto impacto a esta história de desencanto: a impressão de que Gus e Clara podiam ser qualquer um de nós. Fica, por isso, esta imagem marcante: a de uma história simples, actual e intemporal. Uma história de amor, naturalmente.
Título: Novembro
Autor: Sebastià Cabot
Origem: Recebido para crítica
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