terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Mistério em Branco (J. Jefferson Farjeon)

Quando, em plena véspera de Natal, um comboio fica preso na neve, os passageiros estão longe de imaginar que os espera o mistério das suas vidas. Ansiosos por chegar aos respectivos destinos, decidem sair do comboio e dirigir-se a pé a outra estação, mas acabam por se perder e encontrar refúgio numa casa aparentemente habitada, mas onde não se encontra ninguém. Eis o primeiro enigma: que é feito dos donos da casa? Mas o enredo adensa-se com a chegada de novos elementos e o conhecimento de uma morte no comboio. Começam então a surgir as suspeitas - mas também as pistas para o desvendar do mistério. 
Parte do que torna esta história cativante é a sucessão de reviravoltas que parece definir todo o enredo. Não é propriamente uma leitura compulsiva, não havendo, aliás, grandes rasgos de acção, mas a passagem de uma situação de isolamento para a possibilidade de um crime e depois para a de vários faz com que haja sempre uma surpresa ao virar da esquina. Além disso, ao haver muitas personagens reunidas num espaço reduzido, cria-se uma margem de suspeição capaz de pairar sobre todos. Não necessariamente no que respeita ao crime - há, aliás, um suspeito evidente - mas às motivações e comportamentos, principalmente no que toca ao extravagante Sr. Maltby. 
É um policial clássico, daqueles que vivem mais das pistas e da dedução do que propriamente da tensão e do perigo. Ainda assim, isso não lhe retira qualquer envolvência. Há algo de intrigante na forma como as verdades vêm à superfície, não só através de raciocínios lógicos, mas também com uma notável presença... espiritual. Surpreende, pois, também esta faceta psíquica do enredo, que faz com que parte dos passos dados pareçam nascer de pressentimentos... para depois lhes conferir também uma nova perspectiva.
Não quer dizer que não haja tensão, entenda-se. Desde as deambulações no meio da tempestade de neve às situações provocadas pelo misterioso Smith, há várias situações intensas a contrapor à aparente serenidade de espírito com que o mistério é desvelado. O que cria um contraste interessante, pois, sendo embora um livro mais pausado, consegue, ainda assim, surpreender com os seus picos de intensidade.
Tudo somado, fica a impressão de uma leitura misteriosa e cativante, com personagens peculiares e um enredo que, apesar de relativamente pausado, consegue, ainda assim, prender do início ao fim. Uma boa história, em suma, e um belo enigma natalício.

Autor: J. Jefferson Farjeon
Origem: Recebido para crítica

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