segunda-feira, 1 de julho de 2019

O Homem dos Sussurros (Alex North)

Na sequência da morte da mulher, Tom Kennedy muda-se com o filho de sete anos para uma casa que, embora com um aspecto um pouco assustador, parece ser, afinal, inofensiva. Situa-se numa aldeia pacata e Tom espera que seja o local onde ele e Jake começarão a recuperar da perda. Mas há sombras densas a pairar sobre Featherbank. Vinte anos antes, o assassino Frank Carter, conhecido como o Homem dos Sussurros, matou várias crianças e a sua lenda perdurou. Agora, um rapaz desapareceu e não tarda a que as suspeitas se voltem para o passado. Mas Carter está preso, por isso quem poderá ser o responsável? E a casa assustadora? Será afinal realmente inofensiva?
Dividido entre várias perspectivas e com uma aura de mistério que, cativante desde o início, vai crescendo em força a cada novo desenvolvimento, este é um daqueles livros em que bastam os primeiros capítulos para se ficar viciado. Da escrita fluida e envolvente ao equilíbrio entre momentos sinistros, revelações de um passado doloroso e momentos de pura emoção, passando, é claro, pela sucessão de perguntas que definem o ritmo do enredo, tudo neste livro parece ter a medida certa, potenciando ao máximo o impacto de cada novo momento. E, num livro onde tudo são qualidades, há, ainda assim, alguns pontos que importa destacar.
Parte do que torna a leitura tão intrigante é o delicado equilíbrio que parece ser a base de todo o enredo, a dúvida que alimenta o mistério. É que, durante grande parte da história, há uma dúvida recorrente: haverá algum elemento sobrenatural a influenciar o rumo das coisas ou trata-se apenas de crime e castigo, por mais macabro que o primeiro possa ser? Esta dúvida adensa o mistério, além de estar na base de alguns dos momentos mais fortes da história. As conversas de Jake com a sua amiga imaginária, principalmente na fase final, são particularmente poderosas e contribuem em muito para o fortíssimo impacto do final.
A outra grande força vem da meticulosa construção de um conjunto de personagens tão fortes quanto imperfeitas. Tom procura um novo começo, mas carrega o passado às costas e o medo de fracassar perante o filho. Jake é uma criança introvertida que se sente a mais no mundo do pai. Pete carrega também o passado aos ombros, mas um passado que vem tanto do crime nunca totalmente resolvido de Frank Carter como do seu próprio percurso pessoal - que acaba por ter consequências imprevistas. E Amanda... bem, Amanda é um fruto da mesma árvore, dedicada a resolver o caso custe o que custar, mas já a aproximar-se das sombras que pairam sobre os ombros de Pete. E, claro, há ainda a identidade do assassino e as questões que esta revelação evoca.
Tudo isto converge num equilíbrio complexo e delicado que faz com que as personagens gerem sentimentos tão fortes precisamente por não serem perfeitas. No cerne da história está um mistério, mas tudo ganha mais força pelo facto de haver percursos e penas pessoais a orbitar em torno desta intriga central. E, sendo certo que o passado tem sempre consequências, esta complexidade das personagens confere também uma maior intensidade ao final, fechando o ciclo de forma ambígua quanto baste, mas deixando uma resolução satisfatória para todas as suas diferentes facetas.
Intenso, misterioso, viciante e com um delicioso equilíbrio entre os elementos mais sinistros do mistério e a vastidão emocional que vive no espírito das personagens, trata-se, pois, de um livro notável em todos os seus aspectos. Uma história capaz de despertar sentimentos fortes e de se entranhar na memória bem depois de lida a derradeira e memorável frase. A soma das partes resume-se, pois, numa palavra: brilhante.

Autor: Alex North
Origem: Recebido para crítica

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