Há uma teoria que diz que, nas origens da civilização, está o cheiro a álcool emanado pelos frutos maduros, que fez com que os macacos descessem das árvores com a sua promessa de açúcar, desencadeando depois toda a evolução que se seguiu. É esta teoria o ponto de partida deste pequeno livro, que, além de se debruçar sobre a relação entre o álcool e os primórdios da humanidade, explora a influência da embriaguez e do papel social do fabrico das bebidas alcoólicas - com previsível destaque para a cerveja. O resultado é um breve, mas muito interessante, ensaio sobre a prevalecente influência do álcool na humanidade. Com uma perspectiva bastante surpreendente.
Não sendo propriamente o aspecto mais crucial deste livro, uma das primeiras coisas que importa destacar é o facto de se chegar ao fim da leitura com uma bela lista de livros para ler. São várias as referências espalhadas ao longo do texto e, dada a brevidade, é inevitável uma certa curiosidade em aprofundar certos aspectos. Estas referências são, por isso, além de uma fundamentação, uma seta que aponta em direcção a mais respostas.
Não se pense, ainda assim, que a brevidade significa a falta de alguma coisa. Não. As linhas essenciais estão bem presentes, e entrelaçam-se num retrato global bastante fascinante, que abrange não só o impacto da embriaguez sobre o crescimento da civilização, mas também o papel social do álcool, tanto a nível de fabrico como de consumo. E, não esquivando o lado mais negro, consegue, ainda assim, concentrar-se no lado socializante da bebida. Afinal, se partimos do macaco que parte à descoberta do açúcar, faz todo o sentido que, no destino, nos deparemos com a espécie que lhe sucedeu a encontrar também algo de novo - de socialmente novo, neste caso - na sua partida à descoberta.
Há ainda um outro aspecto a acrescentar à brevidade da abordagem: a fluidez da escrita. Sendo um livro breve, espera-se que não seja muito denso, mas sendo um ensaio, haverá inevitavelmente uma boa dose de informação para assimilar. E é aqui que entra a harmonia da escrita, que, simples quanto baste, mas com o seu quê de poético na forma como contempla as questões, confere uma fluidez ao texto que não só facilita a assimilação das coisas como torna a leitura muito cativante.
Breve, mas muitíssimo interessante, simples, mas com muita informação pertinente, e assente numa perspectiva deliciosa que vai dos primórdios da evolução até à socialização actual, trata-se, pois, de um livro que, nas suas poucas dezenas de páginas, contém muito de interessante para descobrir. E isso chega e sobra para fazer deste pequeno ensaio uma leitura notável.
Título: O Macaco Bêbedo Foi à Ópera
Autor: Afonso Cruz
Origem: Recebido para crítica
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