domingo, 18 de agosto de 2019

Crónicas à Volta do Mundo (Rui Daniel Silva)

Viajar pelo mundo de mochila às costas pode parece um projecto perigoso e intimidante, principalmente se prestarmos atenção às notícias que todos os dias nos chegam sobre a insegurança de certos países. Mas pode também ser uma experiência reveladora, quer pela beleza dos locais - naturais e construídos pelo homem, - quer pelas diferenças culturais e pela inesperada simpatia dos habitantes de alguns desses países. O que este livro conta é, acima de tudo, a experiência pessoal de uma viagem através desses locais, com as peripécias mais estranhas e alguns elementos inesperados.
Crónicas à Volta do Mundo: à partida, o título diz tudo. Mas é também desta dualidade que surge um equilíbrio intrigante. Sendo um livro de crónicas, faz todo o sentido que cada texto seja relativamente breve. Sendo um livro de viagens, talvez fosse de esperar um maior desenvolvimento em termos de descrição dos locais e da cultura. Onde entra o equilíbrio? Bem, no facto de, apesar de uma certa vontade de descobrir mais a fundo os traços característicos de cada um destes locais, cada crónica ter precisamente a mistura certa de informação objectiva e de experiência pessoal.
Outro aspecto interessante é que parece não haver grandes planos ou limites. Há uma ligação entre as viagens a países próximos, mas não uma região específica ou uma temática a servir de base ao plano de viagem. São viagens pelo mundo, abrangendo locais tão diferentes como o Togo e a Suíça, a Moldávia e o Iraque. E, mais do que a impressão dos próprios locais - para a qual contribuem também as fotografias, - fica uma imagem de experiência pessoal. Talvez também por isso sejam os episódios bizarros que ficam na memória, como por exemplo o desmontar da ideia de que aquela coisa de oferecer uns quantos camelos pela namorada é apenas um mito urbano.
E, claro, há a mentalidade positiva. Pode não ser o mais importante, mas é algo que sobressai ao longo de toda a leitura: a sensação de uma aventura em que, a cada passo, se procura ver o melhor das culturas e das pessoas, mesmo nos locais em que outros interesses parecem falar mais alto. Não faltam as situações delicadas, os enganos, os momentos mais tensos... mas nota-se uma clara intenção de guardar sobretudo o lado bom. E isso é também algo bastante notável.
Mais que um livro de viagens, trata-se, pois, da história pessoal de um viajante, que, embora sucinta na descrição de cada paragem, consegue, ainda assim, realçar o fundamental e transportar o leitor para os momentos mais únicos. Basta isto para fazer com que a leitura valha a pena. Isto... e a sensação de ter viajado sem sair do sítio.

Autor: Rui Daniel Silva
Origem: Recebido para crítica

Sem comentários:

Enviar um comentário