sábado, 7 de dezembro de 2019

Saga - Volume Cinco (Brian K. Vaughan e Fiona Staples)

Quando o que está em jogo é a família, a palavra dominante é sacrifício, e esse sacrifício pode implicar não só correr grandes perigosos como também estabelecer alianças temporárias mais ou menos desagradáveis. Marko vê-se aliado ao Príncipe Robot IV na tentativa de seguir a pista de Alana e dos filhos de ambos, nas mãos de um aspirante a revolucionário. Já Gwendolyn e Sophie juntam-se a A Marca para tentar obter a cura de que A Vontade necessita para sobreviver. E quanto a Alana... bem, as revoluções são mais bonitas na teoria do que na prática e Dengo está prestes a descobrir que os seus aliados têm muito menos escrúpulos do que ele.
É algo de absurdamente fascinante a forma como, ao quinto volume, esta Saga continua a surpreender nas suas múltiplas facetas. No mundo, que se vai expandindo cada vez mais à medida que os vários protagonistas visitam, nas suas respectivas demandas, diferentes locais com os mais diversos habitantes; nas relações, cada vez mais complexas e mais realistas, principalmente por serem tão surpreendentemente emotivas num mundo onde a guerra global parece ter insensibilizado muitos; e no crescimento da intriga para novas possibilidades, abrindo novos caminhos para as personagens para depois os cortar da mais inesperada das formas, deixando um impacto tão devastador como a curiosidade irresistível de saber o que acontece a seguir.
Claro que, sendo banda desenhada, não é propriamente uma surpresa que parte deste delicioso equilíbrio surja também do balanço entre a arte e os diálogos. Já a evolução em termos do papel que cada parte representa é bastante surpreendente. Não desapareceram as frases marcantes, principalmente na narração de Hazel, e muito menos as tiradas certeiras. Mas parece que, à medida que a história evolui, as coisas começam a precisar de menos palavras. Conhecemos o que as personagens sentem ao ponto de lhes vermos esses sentimentos nos rostos - até porque um dos aspectos mais notáveis é mesmo a expressividade de um desenho transbordante de emoções. E mais. Alguns dos momentos mais emotivos estão mais em gestos do que em palavras, e o mesmo se aplica aos mais divertidos e caricatos (com destaque para um certo momento em página dupla).
Mas voltando ao enredo propriamente dito, porque há ainda outra faceta a destacar. É apenas natural que, com o adensar da trama, novas personagens entrem em cena e novos perigos venham à superfície. É, afinal, de uma guerra que se trata. Mas o mais impressionante neste aspecto é a forma como as personagens geram emoções complexas, amores e ódios, empatias relutantes ou simpatias absolutas. E, quando pensamos que os nossos preferidos estão seguros... bem, ninguém está seguro numa história como esta.
Evolução e estabilidade num equilíbrio praticamente perfeito: é possivelmente esta grande força que faz com que esta série consiga, a cada novo volume, tornar-se ainda mais apaixonante. E, com as suas personagens notáveis, o seu mundo cada vez mais vasto e povoado de espécies visivelmente intrigantes e um contraste feroz entre brutalidade e ternura, é como um sempre ansiado regresso a um local onde somos sempre felizes. Belíssimo, encantador... maravilhoso.

Autores: Brian K. Vaughan e Fiona Staples
Origem: Recebido para crítica

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