terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Descender, Vol. 4: Mecânica Orbital (Jeff Lemire e Dustin Nguyen)

Não há lugares seguros para TIM-21. Não quando todos o procuram, com diferentes intenções. Mas a situação está prestes a tornar-se ainda mais delicada. Do confronto com TIM-22, o outro robô da mesma série, resultou que Telsa e Quon conseguiram fugir, mas levando um infiltrado. O verdadeiro TIM ficou para trás. Entretanto, também Andy anda em busca de TIM, sem saber que tem os seus próprios fantasmas do passado para enfrentar. Rumos colidem. Verdades vêm à tona. E tudo muda em menos de nada, deixando a sensação de que o fim está mais próximo do que aparenta - e não será limpo nem inocente.
É sempre algo de fascinante a forma como cada novo volume desta série consegue apresentar toda uma sucessão de novos desenvolvimentos - e surpresas, sobretudo - sem nunca perder a aura que a torna tão peculiar. É como que uma mistura de acção e de intriga com uma estranha e triste ternura, evocada em grande parte pelas circunstâncias de TIM, mas também pela imagem de um universo que tombou da sua própria grandeza. É estranho - mas estranhamente fascinante - como tudo é tão diferente, conseguindo ainda assim parecer sempre tão familiar. E é também fascinante a forma como os robôs se humanizam... bem, alguns, pelo menos... e os humanos adoptam a frieza das máquinas.
Claro que não se cingem a este estranho equilíbrio de sentimentos as peculiaridades desta série. A própria arte é invulgar, ainda que nem sempre seja fácil explicar o porquê das impressões que evoca. Talvez o contraste das cores fortes com o movimento. Talvez a expressividade nos rostos das personagens, com o inevitável destaque para a humanidade no rosto de TIM. Talvez a forma como as diferentes linhas do enredo se encadeiam umas nas outras, sobressaindo particularmente o entrelaçado das três partes na fase inicial deste volume. E, claro, basta olhar para esta capa: não parece um coração? Há aqui uma grande metáfora, mesmo ao alcance da mão.
Mas importa, ainda, voltar à emoção, porque há um poderoso efeito secundário nisto de se sentir tanta empatia por estas personagens. É que já são expectáveis as perguntas que ficam em aberto, mas este volume dá todo um outro sentido à expressão "deixar em suspenso". Ao longo do caminho, foram muitas as revelações e as surpresas e tudo culmina num ponto em que qualquer futuro passa a ser possível para estas personagens (exceto, talvez, um limpo e cor-de-rosa). E, assim sendo, só o resultado é previsível: uma vontade praticamente irresistível de descobrir o que acontece a seguir.
É algo de belo e de poderoso, esta história em que máquinas e humanos são capazes de partilhar da mesma crueldade e dos mesmos afectos. E, com as suas tão peculiares características, dos cenários aos enredos, sem nunca esquecer as emoções fortes que evoca, é também uma história que nunca deixa de fascinar - do início ao fim, e para além dele.

Autores: Jeff Lemire e Dustin Nguyen
Origem: Recebido para crítica

Sem comentários:

Enviar um comentário