Será, à partida, a última reunião familiar na casa onde os quatro irmãos cresceram, mas os laços de sangue que os unem não significam necessariamente umas férias tranquilas para Harriet, Alice, Fran e Roland. Fran levou os filhos. Alice, o filho do antigo namorado. Harriet foi sozinha, mas decidida a partir mais cedo. E Roland levou a nova mulher e a filha resultante de um casamento anterior. Entre todos, geram-se tensões e mistérios, não só sobre o que devem fazer à casa onde se encontram, mas sobretudo nas sombras de um passado que persiste em manifestar-se nas relações actuais. Pelo caminho, haverá quem descubra o amor e o desencanto. E, no fim, todos levarão na alma algo de diferente.
Uma das primeiras coisas que importa realçar acerca deste livro é que, apesar de não ser particularmente longo, exigirá algum tempo, não só pelo ritmo algo pausado e descritivo que a autora confere à narrativa, mas sobretudo pela complexidade das próprias relações. Não há um único protagonista - nem sequer quatro. Todas as personagens, presentes e passadas, assumem um papel importante. E, sendo certo que demora algum tempo a assimilar as relações e histórias pessoais de cada um, também o é que é essa mesma complexidade que confere profundidade à leitura.
Não é só às relações que a complexidade se cinge. Há para cada personagem uma evidente ambiguidade, com aversões que se tornam empatias e vice-versa, escolhas de moralidade dúbia, mas que se revelam a uma nova perspectiva devido à idade dos intervenientes e até uma teia de afectos e manipulações que gera o estranho desejo simultâneo de aproximação e afastamento. Nada é linear nesta família - nem as relações, nem as personalidades. E, quando a história se embrenha no passado, vêm à superfície novas semelhanças - bem como um certo mistério que nunca chega a ser totalmente desvendado sobre o passado dos quatro irmãos.
É como se nada fosse fácil na vida destas personagens, nem mesmo os laços que as unem àqueles em cuja companhia cresceram - ou estão a crescer. E é talvez desta impressão sombria, a de múltiplas vidas traçadas na sombra, que resulta a estranha e fascinante impressão que permanece ao longo de toda a leitura: a de um mergulho lento na vida das personagens, pausado e ambíguo, por certo, mas com rasgos de estranha intensidade e um percurso estranhamente memorável.
Exigirá o seu tempo, mas vale cada minuto. Pois, com a sua teia de relações complexas, descobertas misteriosas e personalidades em constante crescimento, não deixa de fascinar pela profunda ambiguidade e pela intensidade das tensões que unem estas personagens. Vale a pena, sem dúvida, conhecer esta família.
Título: O Passado
Autora: Tessa Hadley
Origem: Recebido para crítica
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