O fim parece estar cada vez mais próximo, com o CGU a deixar-se atrair para uma armadilha, vendo-se consequentemente diminuído nas suas forças, e os robôs a prepararem a sua derradeira rebelião. No meio de tudo isto, parece não haver espaço para sentimentos pessoais, mas TIM-21 continua a ser o cerne de tudo - ainda que nem ele saiba muito bem porquê. É a ele que todos procuram, e é também ele que tem de encontrar o seu próprio caminho. Mas, entre perdas e reencontros, a única coisa que parece estar mais próxima é o caos. As máquinas preparam a sua retaliação - e as consequências podem muito bem ser fatais.
Há algo de absurdamente comovente na forma como esta série consegue entrelaçar no que é essencialmente um conflito entre máquinas e humanos uma tão grande proximidade emocional, ao ponto de despertar questões sobre o que define realmente a humanidade. É que, na sua estranhamente admirável inocência, TIM-21 consegue ser, muitas vezes, a mais humana de todas as personagens. Há algo de profundamente terno e comovente no seu percurso e nas suas expressões. E, assim sendo, é impossível não querer continuar a acompanhar esta história, descobrir o porquê da sua importância e, sobretudo, saber se ele vai ficar bem. E, não, a história ainda não acaba neste volume, por isso essa é uma vontade que se prolongará.
Outro aspecto notável é a capacidade de prolongar a tensão e o envolvimento emocional. Nesta fase, a história oscila entre diferentes cenários e o percurso de diferentes personagens, embora seja sempre possível sentir a presença dos laços que unem os vários intervenientes. E, embora comecem a ganhar forma movimentações mais globais e a perseguição e intriga comecem a abrir caminho à guerra aberta, há sempre passos pessoais. Quon e Telsa, a solidão do Broca e sobretudo a relação entre Bandit e TIM-21 são rasgos de profunda emoção numa história que é muito mais do que a de uma luta pela supremacia.
É como se tudo se expandisse - incluindo as batalhas - para o coração das próprias personagens, o que é algo de peculiar tendo em conta que há uns quantos robôs envolvidos. Mas é ainda interessante realçar a forma como este equilíbrio emocional parece ser transposto para a própria arte: os rasgos de cor, a expressividade das feições e o contraste entre os diferentes cenários parecem formar um conjunto perfeitamente enquadrado, que quase parece transportar-nos para a visão dos próprios intervenientes.
Cheio de intensidade e principalmente de emoção, trata-se, pois, de mais um volume memorável, feito tanto da guerra que se aproxima como da promessa de afectos que nunca chegaram a desaparecer. É esta mistura de acção e emotividade, que é também visualmente notável, que torna esta série tão fascinante de seguir. E tão grande a vontade de saber o que se segue.
Título: Descender, Vol. 5: Ascensão das Máquinas
Autores: Jeff Lemire e Dustin Nguyen
Origem: Recebido para crítica
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