Tracy Lawless regressou à cidade para descobrir o que acontecera ao irmão e acabou preso à mesma vida do pai. Agora, tem uma série de homicídios para resolver, um caso amoroso com a mulher do chefe e o exército à sua procura para o levar de volta. Noutro tempo, mas com o mesmo cenário e as mesmas ligações, Riley Richards começa a fartar-se da vida da cidade e anseia por regressar à tranquilidade, mas, para o fazer sem perder a fortuna, precisa de se livrar da mulher, nem que isso implique fazer favores. Cada um deles tem a sua história, os seus pecados e as suas sombras. Em comum, a mistura de ambição e de desolação que habita esta cidade e os seus habitantes. E a certeza de que, num submundo de crime, dificilmente haverá finais felizes. Sobretudo para os inocentes...
Algo que se vai tornando cada vez mais evidente de volume para volume, e um dos grandes pontos fortes desta série, é o delicado equilíbrio entre a construção de uma linha central independente para cada história e a teia de contactos, envolvimentos e relações que une os diferentes percursos. Novos elementos e personagens já conhecidas cruzam-se neste mundo completo onde a crueldade parece ser soberana, dando forma a percursos com tanto de desolador como de misterioso e personalidades complexas e ambíguas que nunca são apenas o que mostram ser.
Este jogo de sombras e de ambiguidades reflecte-se, naturalmente, a nível visual, com as sombras da noite, os tons esbatidos dos lugares mal frequentados e os rasgos rugros da brutalidade a contrastar com os tons vivos - e quase inocentes - da memória. Este contraste é particularmente vincado em O Último dos Inocentes, pois o passado é a força motriz de tudo o que acontece, mas está também presente, ainda que em menor grau, na história de Tracy. E há, além disso, a já habitual expressividade dos rostos, que, tendo em conta o tipo de acontecimentos que estas histórias envolvem, se revela um elemento particularmente eficaz.
Importa ainda destacar um elemento comum a ambas as histórias e que tem a ver com a destruição da inocência. Tracy Lawless e Riley Richards podem ser os protagonistas de tudo o que acontece, mas os momentos mais marcantes envolvem duas personagens bem distintas: Evan e Freakout. Afinal, é de pecado e de inocência que tratam estes dois episódios - e as consequências de ambos são simplesmente devastadoras. Evan, em particular, tem o tipo de final que se entranha na memória. Freakout... representa o pior tipo de destruição.
Cada volume desta série é um mergulho nas profundezas da desolação e, como tal, desperta inevitavelmente sentimentos fortes. Este mostra que a inocência não pode perdurar e, com a sua mistura de implacabilidade e inocência, intriga e desolação, fica na memória não só pelo muito que acontece, mas pelos pensamentos e sentimentos que desperta. Sombrio nos tons - e sobretudo nas almas - um livro memorável em todos os aspectos.
Título: Criminal - Livro Três
Autores: Ed Brubaker e Sean Phillips
Origem: Recebido para crítica
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