Patience Lee acaba de regressar do Afeganistão para descobrir que, antes de fugir com a nova namorada, o marido lhe deixou a vida virada do avesso. Com dívidas astronómicas para pagar, Patience vê-se reduzida a duas opções: trabalhar para os criminosos da sua zona ou tirar-lhes o dinheiro de outra forma. Com um fato, uma máscara e os conhecimentos que adquiriu no exército, Patience constrói uma nova identidade e começa a fazer planos. O problema é quando os criminosos começam a retaliar...
Apesar da inevitável relação com o Kick-Ass original - que implica, obviamente, o fato, a máscara e o nome - esta é uma história totalmente independente, ainda que haja algumas semelhanças entre os dois protagonistas. Patience está bem longe de ser uma miúda vulnerável, pelo menos no aspecto físico, mas tem grandes problemas para resolver e também o coração no sítio certo. E, não havendo qualquer relação em termos de história, não é preciso conhecer o outro Kick-Ass para desfrutar deste livro, mas não deixa de ser interessante ver os pontos em comum.
À semelhança do outro Kick-Ass, também Patience tem tendência para se meter em situações das quais é complicado sair, o que significa que também aqui há uma boa dose de pancadaria envolvida. Mas, mais do que as cenas de acção, que se destacam sobretudo pelo movimento e... bem, pela ocasional abundância de sangue... é o percurso pessoal que envolve estas cenas dramáticas que faz com que, além de ser empolgante, esta história sobressaia também pelo lado emocional forte (ainda que relativamente discreto). O regresso para junto dos filhos acaba por se tornar em algo diferente - e é difícil não sentir também um pouco do desalento da protagonista.
É, aliás, deste desalento que nasce a ambiguidade moral que se manterá ao longo de toda a história, ainda que também presente de forma discreta, dada toda a dimensão das confusões em que Patience se mete. A decisão de roubar criminosos para benefício próprio (ainda que parcial) não é fácil de situar em termos de barreira entre o bem e o mal. E, curiosamente, esta mesma ambiguidade parece surgir também noutra personagem que, bastante impiedosa no geral, toma uma decisão peculiar quanto a modos de pagamento.
É, ainda assim, sobretudo a acção que se destaca, pelo que importa salientar uma vez mais dois aspectos a nível visual: o movimento, que faz com que as cenas de pancadaria quase pareçam saltar da página, e a expressividade das feições, que, no caso de Patience, é muitas vezes mais eloquente do que qualquer diálogo. Numa história em que sangue, explosões e porrada contrastam com uns quantos dilemas interiores, esta vida que transborda das páginas e que contrasta com o sombrio dos tons é crucial para o impacto da leitura.
Cheio de acção e de intensidade, trata-se de uma história de super-heróis em que a protagonista não tem super-poderes nem julga ser assim tão heróica. E é precisamente isso que a torna tão interessante - e também o que torna tão memorável esta agitada e empolgante aventura.
Título: Kick-Ass: A Miúda Nova
Autores: Mark Millar e John Romita Jr.
Origem: Recebido para crítica
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