Longe vão os tempos em que os monstros assustavam os humanos. Com a entrada em cena de tecnologias cada vez mais avançadas, os papéis inverteram-se, ao ponto de o medo dos humanos ser tão forte que os monstros decidiram fechar todas as portas que ligavam o seu mundo ao dos humanos. Todas? Talvez não. Ou pelo menos é isso que parece, pois uma humana assustada chamada Mizé acaba de ir parar involuntariamente a Monstrópolis. Mais especificamente, ao sótão da família Monstro. E a porta por onde entrou desapareceu à sua passagem, por isso, se quiser regressar a casa, vai precisar de toda a ajuda que conseguir. E essa ajuda só pode vir da estranha família com que acaba de se encontrar...
Há algo de estranhamente encantador - e nostálgico - em ler livros infantis na idade adulta. Ora nos vem à cabeça o tempo em que bastava a mais inocente das histórias para nos fascinar, ora a magia de quando acreditávamos que tudo era possível. E, quando lemos uma história cativante, como é o caso desta pequena aventura, vem outro tipo de nostalgia: a que nos diz como gostaríamos de ter lido uma história destas na nossa própria infância. Pois bem... este livro desperta todos estes sentimentos e tem ainda o condão de, nostalgias à parte, proporcionar uma leitura cativante, leve e divertida... mesmo a quem já deixou de ser criança.
Parte do que torna esta leitura tão empolgante é o equilíbrio entre texto e ilustração, com uma história simples quanto baste, mas bem escrita e com vários momentos intensos, e uma componente visual cheia de cor e de expressividade. Destacam-se particularmente as expressões da Mizé, mas a caracterização dos monstros é também muito interessante, além de particularmente notável pela diversidade. Além disso, uma vez que tudo se passa num mundo de monstros, não faltam figuras peculiares, o que é sempre um estímulo delicioso à imaginação de quem lê.
Claro que, sendo um livro infantil, é uma história relativamente breve, o que significa que tudo acontece de forma relativamente linear. Ainda assim, não lhe faltam qualidades, desde a mensagem positiva, de que diferente não significa mau e da importância de receber e ajudar quem precisa, à construção de um mundo alternativo onde todos são diferentes, mas nem tudo é assim tão diferente. E, claro, sem esquecer o sentido de humor delicioso que torna ainda mais encantadora esta história surpreendentemente terna.
Cheio de cor e de vida, de leveza e também de inocência, trata-se, pois, de uma bela leitura para os mais novos, mas igualmente capaz de fazer sonhar os que já não o são tanto. Leve, divertido e enternecedor, um livro que se lê num instante, mas que surpreende ao virar de cada página.
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