sábado, 1 de maio de 2021

Andar a Pé (Henry David Thoreau)

Andar a pé pode ser muito mais do que o acto de ir de um lado para outro. Pode ser um acto de descoberta de locais inexplorados, de comunhão com a natureza, de contacto com uma parte da vida que persiste e continua independentemente da chamada civilização. Pode ser um gesto tranquilizador, um acto de meditação, um momento passado a sós com os próprios pensamentos. E, além de um bom exercício, pode ser uma forma de ver o mundo. É esta a perspectiva que este pequeno livro pretende apresentar.
Uma das primeiras coisas que importa referir sobre este livro é que, apesar da brevidade, exige o seu tempo para ser devidamente assimilado, em parte devido à escrita um pouco pausada, que traça descrições meticulosas da paisagem e das paisagens interiores que esta evoca, mas sobretudo porque parece reflectir no próprio texto a experiência de uma extensa e lenta caminhada, contemplando a natureza e meditando depois profundamente nas suas complexidades.
E funciona realmente como uma caminhada, não só através dos espaços evocados, mas também, em certa medida, do tempo, pois, ao longo do expressivo contraste traçado entre natureza e civilização, são várias as referências que vão sendo evocadas. Mas não é só esse tempo que se sente no livro, pois, embora não sendo descrito totalmente como tal, é fácil imaginar todo o texto a ser proferido durante uma pensativa e filosófica caminhada por bosques e terrenos ainda por explorar, como se o ritmo dos passos tivesse sido também transposto para o papel.
Claro que, sendo tão breve, fica sempre aquela vontade insatisfeita de ler um pouco mais, até porque as descrições são particularmente notáveis. Ainda assim, é interessante notar que esta visão da caminhada parece ter, no essencial, a dimensão certa, com espaço para a observação, para a contemplação e para a reflexão sobre o mundo e a evolução, através dos tempos, de natureza e civilização.
Breve, mas surpreendentemente vasto no conteúdo, trata-se, pois, de um livro que exige algum tempo - ou, melhor dizendo, uma certa contemplação - para assimilar todas as suas particularidades. Mas que fica no pensamento pela forma como desperta - ou relembra - o poder e a importância de uma boa deambulação. A pé, naturalmente.

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