Os irmãos Centobucchi podem ser unidos, à sua maneira, mas de uma forma que é tudo menos convencional. Ou não fossem eles um mafioso, um padre, um polícia, uma atriz e uma mãe de família com uma vida dupla. Mas, como se não bastassem estes papéis contraditórios, têm também uma tendência natural para se meterem no caminho um dos outros, quer seja revelando ou ocultando segredos, interferindo nas relações uns dos outros ou até partilhando em confissão coisas que o confessor preferia não saber. Têm uma história em comum e laços ambíguos a uni-los. E, entre episódios inesperados de violência e de humor, têm uma estranheza que é singularmente fascinante.
Não é muito fácil falar sobre este livro - tal como o anterior, aliás - sem revelar demasiado, pois, embora haja uma história maior a unir todos os irmãos, e desenvolvimentos que avançam de episódio em episódio, todo o livro é composto por pequenos momentos, o que significa que cada um deles tem surpresas a desvendar. Ainda assim, é fácil destacar as principais qualidades: o equilíbrio entre a simplicidade de cada situação individual e a história maior a que pertencem; o contraste entre uma violência quase fácil e uma teia complexa de relações familiares; e também a estranha leveza resultante de alguns rasgos de humor bastante deliciosos.
Sobressai a palavra contraste, não é verdade? E por múltiplas razões: é que o contraste não vem só dos aspectos específicos de cada episódio, drama e humor, leveza e implacabilidade, lealdade familiar e... falta de lealdade em geral. Vem das próprias circunstâncias da família Centobucchi, que fazem com que ora haja irmãos a querer proteger-se, ora irmãos a querer matar-se; irmãos que querem revelar segredos, e segredos cujo fardo é preciso calar; e até um delicado malabarismo entre moral e falta dela, fé e hipocrisia, união e... o fim do livro dirá o quê.
Olhando individualmente para cada episódio, tudo acontece de forma relativamente concisa, o que significa que fica alguma curiosidade insatisfeita... até chegarmos aos episódios seguintes. E há também perguntas sem resposta ao chegarmos ao fim deste volume. Mas há um aspecto curioso acerca desta relativa simplicidade: é que, transposta também para o aspecto visual, sem grandes elaborações nos cenários, enfatiza o impacto do drama através das expressões das personagens. E quem diz do drama, diz do humor, porque há expressões na cara do padre Francesco que nem precisam de palavras.
Aparentemente simples, aparentemente leve, mas com uma história maior a emergir das partes e uma ambiguidade moral e emocional que acrescenta a estes episódios uma inesperada complexidade, trata-se de uma leitura ligeira, mas muito surpreendente, sobre laços de família coesos... mas um tanto ou quanto espinhosos.
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