O fim de uma relação pode ser o início de um novo caminho, mas não é por isso que deixa de doer. Que o diga o escritor, que, apesar do conforto dos amigos, tem de lidar não só com o bloqueio criativo, mas com tudo o que não estava preparado para perder. No início, julga que uma nova relação pode ser a solução para todos os seus problemas. Mas precisa de se descobrir primeiro. Até porque às vezes o passado volta.
Sendo uma história relativamente breve, e centrada sobretudo no quotidiano, um dos aspetos mais surpreendentes é necessariamente o equilíbrio de contrastes. Ambientes boémios e melancólicos, vícios privados e epifanias quase espirituais, sonhos idílicos e realidades imperfeitas. Muito do que aqui acontece prende-se com os sentimentos do protagonista, mas há um mundo à volta, e estes contrastes enfatizam-no.
Outro aspeto curioso vem da visão simples, mas bastante certeira, por vezes, do mundo digital. É fácil reconhecer partes do que o autor descreve e, podendo embora haver discordância com algumas perceções do protagonista, não deixa de ser uma boa base de reflexão para algo complexo no meio de uma história simples.
Finalmente, importa salientar que, numa história de fins e de inícios em que o quotidiano reina, o facto de as personagens serem imperfeitas as torna mais reais. E que, ainda que fique uma ligeira curiosidade insatisfeita ante o final relativamente aberto, a verdade é que faz sentido a forma como tudo termina.
Simples, leve, mas com as medidas certas de poesia e de emoção, é um livro atual na perspetiva exterior... e surpreendente na proximidade interior. E uma boa história, pois claro.
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