quarta-feira, 13 de julho de 2022

As Musas (Alex Michaelides)

Para Mariana, regressar a Cambridge só pode ser penoso, pois tudo lhe recorda o amor que perdeu. Mas não tem propriamente alternativa, pois a melhor amiga da sobrinha foi assassinada e pede-lhe que a vá apoiar. E assim que chega, não tem tanto tempo como julgava para lidar com as memórias. O caso é desconcertante, a morte foi brutal e há um óbvio suspeito que todos parecem ignorar. Mariana está convencida de que Edward Fosca, um professor com um óbvio grupo de favoritas, foi o assassino, apesar de ter um álibi para o momento do crime. E, já que ninguém lhe dá ouvidos, terá de ser Mariana a investigar. Mas nada naquela situação é normal. Há contornos rituais e ligações secretas que não podem deixar de desconcertar Mariana. E a morte da amiga de Zoe é, afinal, apenas o início...
Com capítulos curtos e uma história carregada de enigmas, este é um livro que facilmente se torna viciante, não só pela força do mistério, mas pela forma como a teia se vai entrelaçando no passado da protagonista. Na verdade, são tantos os fios enredados que há certos aspetos que acabam por passar para segundo plano com o evoluir do enredo, deixando, a espaços, uma ligeira curiosidade insatisfeita. Mas, mais do que as perguntas sem resposta, o que sobressai é, acima de tudo a intensidade. E é a intensidade que prende, da primeira à última página.
Também a construção das personagens tem vários aspetos a destacar, sobretudo na fase final, com as grandes reviravoltas, mas também com a evolução que vai abrindo caminho para essas surpresas. A relação de Mariana e Sebastian, as sombras do passado que se vão insinuando, confere à história um tom de melancolia que torna os desenvolvimentos finais mais chocantes. Já o percurso dos homens da história - Henry, Fosca, Fred, Morris - faz com que, apesar das convicções de Mariana, haja múltiplos suspeitos viáveis e gera momentos de tensão particularmente fortes e também rasgos de inocência surpreendentemente ternos.
Finalmente, e um pouco à semelhança do livro anterior do autor (com o qual, já agora, existem relações discretas, mas claras), importa salientar os laços com o mundo clássico, agora com os mistérios de Elêusis, a tragédia grega e a deusa Perséfone. São elementos que acrescentam complexidade ao livro, além de adensarem o mistério. E que, embora também desenvolvidos de forma discreta, são também um especial ponto de interesse pela relação que têm com o percurso da protagonista.
Ligeiramente apressado, por vezes, mas muito intenso e cativante, trata-se, em suma, de um livro viciante, carregado de mistério e de melancolia e capaz de surpreender em todas as suas facetas. Vale bem a pena, portanto.

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