Wolfgang Amadeus Mausart é um ratinho que vive no piano do compositor da corte austríaca com a sua família. Leva uma vida discreta, a compor melodias na sua cabeça. Mas tudo muda no dia em que, na ausência de Salieri, decide experimentar o piano, ao alcance dos ouvidos da rainha, que imediatamente exige que Salieri lhe interprete aquela melodia. Só que... Salieri não a sabe. E, se ele não a sabe, alguém terá de a tocar. Senão...
É fácil apontar a grande força deste livro. Basta olhar para capa para ficar uma ideia de que o aspeto visual será deslumbrante. E é-o, de facto. Dos cenários ricamente detalhados à construção meticulosa de um leque vastíssimo de personagens, passando pela forma como a música parece transbordar das páginas, há uma beleza absurda ao longo de todo este livro. E é impossível não sentir um certo fascínio pela forma como esta versão animal da corte, com a sua diversidade e as suas regras singulares, ganha intensa vida através da cor, do traço e da expressão.
Da história propriamente dita, ficam sensações um pouco mais ambíguas, essencialmente devido à relativa brevidade. É que há tanto para explorar e descobrir na arte que acaba por ficar a sensação de que tudo acontece de forma um pouco apressada. Ainda assim, também aqui não faltam forças, desde o reflexo da paixão pela música aos momentos de tensão e de ternura e a uma certa inocência que facilmente desperta sorrisos.
Ainda um último ponto notável resulta da capacidade de emocionar, mesmo numa história tão concisa. Momentos de medo e momentos de alegria, rasgos de esperança e até de uma certa redenção, convivem tranquilamente neste mundo carregado de música, em que as vidas podem ser simples, mas os valores são universais. E há algo de interessante no crescimento das personagens: Mausart é sempre Mausart, mas a sua intervenção oportuna abre para o revelar de novas facetas noutras personagens. E também isso tem o seu quê de fascinante.
Conciso na história, mas vastíssimo na arte, lê-se num instante, mas convida a uma contemplação mais demorada. E, assim, nesta ambiguidade entre o que é simples e o que é imenso, acaba por ficar na memória de todas as maneiras. E pela melhor das razões.
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