terça-feira, 12 de julho de 2011

Um lugar chamado Oreja de Perro (Iván Thays)

Um lugar onde o silêncio parece ser o mais estranho e onde todos em redor têm certas peculiaridades. Aí, numa viagem curta, mas feita de experiências, um jornalista procura a coragem para escrever uma carta e também, talvez até sem o saber, uma forma de lidar com a perda que não consegue aceitar. No seu caminho, figuras invulgares: o fotógrafo que o acompanha no seu trabalho, cínico e de personalidade duvidosa. A mulher grávida, com um passado conturbado e a pretensão de falar com anjos. O homem que perdeu a memória e que, apesar disso, não se cansa de aprender... Personagens e personalidades invulgares, numa história que, mais que um protagonista, define uma vida e um passado num local onde o tal estranho silêncio é a estrada de uma descoberta pessoal.
Importa referir, antes de mais, que apesar da multiplicidade de personagens e situações invulgares, este é um livro que se lê com surpreendente facilidade. A escrita simples, fluída, sem grandes elaborações, deixa que as imagens e o rumo da história exerçam o seu efeito sobre o leitor, sem artifícios desnecessários. A voz do narrador, directa, pessoal, expressa com precisão as emoções, as experiências e as memórias que marcam o seu percurso, criando, ao mesmo tempo, envolvência e empatia. E as possibilidades que são deixadas em aberto, as situações que, apenas insinuadas, deixaram marcas em todo o percurso posterior, criam um interessante equilíbrio entre o que é, de facto, contado, e o que é deixado à imaginação do leitor.
O tom é o de uma certa melancolia, causada por uma perda irremissível e responsável por uma visão algo distante do mundo. A forma como, por vezes, o narrador parece olhar os acontecimentos em seu redor como se fosse apenas um espectador, contrasta com a necessidade de permanecer presente em alguns momentos, bem como com a relutância em escrever a tal carta na qual reside um passo definitivo, irrevogável.
De leitura simples, mas com uma força emocional impressionante, o que mais marca neste livro é a forma como o autor percorre os silêncios e as complicações desse lugar algo esquecido que é Oreja de Perro, sem perder de vista o lado pessoal de cada personagem, de cada acontecimento, de cada história. E é dessas histórias de perda, de mágoa e, talvez, de redenção, que se fazem as imagens que ficam na memória. Muito bom.

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