quarta-feira, 11 de julho de 2012

Nunca Digas Adeus (Lesley Pearse)

Uma mulher entra numa clínica, atinge a tiro a recepcionista e um médico e, depois, senta-se à porta à espera que a polícia chegue. Quando é detida, confessa calmamente o que fez e recusa qualquer justificação ou tentativa de se defender. Mas tudo muda quando reconhece na advogada que lhe é atribuída uma amiga de infância com a qual perdeu contacto. Ao ver a mulher de sucesso em que a sua companheira de cinco Verões maravilhosos se tornou, Susan não consegue deixar de se questionar sobre a forma como a sua vida seguiu um rumo tão diferente do de Beth. De forma involuntária, ressurge uma vaga proximidade entre as duas mulheres, guiada pelas recordações de uma velha amizade em que as duas raparigas conheciam o melhor uma da outra. Mas com as memórias vêm também as sombras do passado e as experiências traumáticas de Beth e de Susan marcaram o rumo das suas vidas, deixando em ambas marcas insuperáveis.
É no lado emotivo, na criação de empatia e compaixão para com as personagens, que se encontra a base e o ponto forte deste livro, feito de duas histórias igualmente marcadas pelas dificuldades e pelas tragédias de vidas que acabaram por seguir rumos tão diferentes. Para contar estas histórias, a autora parte de um momento chocante e, a partir daí, desenvolve as marcas do passado e os acontecimentos da vida das duas protagonistas, evocando sentimentos tão diferentes como a compaixão e a revolta, à medida que os segredos e as experiências traumáticas de Susan e Beth são reveladas, tanto nos acontecimentos propriamente ditos como na influência que estes viriam a ter no rumo das suas vidas.
Claro que, neste aspecto, sobressai a história de Susan, já que é o crime que esta cometeu o ponto de partida desta história, sendo ainda a sua defesa a razão para rebuscar o passado em busca de respostas. Respostas que se constroem numa série de momentos marcantes, quer no que toca à vida familiar de Susan e às fragilidades desta mulher maltratada por demasiadas vezes, mas principalmente na surpreendente verdade por detrás dos seus actos. Surge, assim, um interessante toque de mistério, à medida que as descobertas sobre quanto do que Susan contou é verdadeiro dão lugar à explicação dos seus actos e das razões que os motivaram, numa construção em que o lado emocional tem um papel crucial no desenvolvimento da história e na envolvência da leitura, pois cria, ao mesmo tempo, uma ambiguidade de sentimentos para com Susan e as suas escolhas, e uma visão bastante precisa da forma como um passado doloroso pode moldar, de uma ou de outra forma, a vida daqueles que o viveram. 
Há, portanto, um lado bastante sombrio nesta história. Os crimes cometidos, e as revelações com estes relacionados, juntam-se às experiências traumáticas das protagonistas para criar uma história de vidas difíceis. Mas há também a medida certa de esperança, já que, se as consequências são inevitáveis no caminho de Susan, já para Beth, que vive também sob a sombra da sua história, há também mudanças a ocorrer e a descoberta de um lado aberto e capaz de amar que lhe era, afinal, também inerente.
Envolvente e comovente, Nunca Digas Adeus cativa pela forma como conjuga horror e esperança, amor e perda, confiança e engano, numa história marcante, intensa e com um conjunto de personagens capazes de apelar à empatia mesmo nos seus momentos mais negros. Muito bom.

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