quarta-feira, 15 de agosto de 2012

A Casa dos Dias Felizes (Nancy Thayer)

Os Wheelright são uma família complicada. Diferentes em temperamentos, mas com um elo comum na ligação à história familiar, são, por vezes, conflituosos e cada divergência é motivo para ainda uma outra discussão. Mas todas as tensões e emoções florescem naquele Verão, quando, como habitual, toda a família se junta na casa de Nantucket e os aniversários, casamentos e resoluções da Reunião Familiar parecem criar ainda mais divergências. Para três das mulheres da família - Nona, Charlotte e Helen - é possível que aquele seja um ponto de viragem. Mas, Charlotte com a sua horta orgânica e a descoberta do que gosta realmente de fazer, Helen, com a tensão de lidar com três filhos muito diferentes e o seu casamento em risco, e Nona, com a sombra dos segredos do passado e a percepção de que a vida já vai longa, serão também a base de umas quantas mudanças na sua já complexa vida familiar.
Centrada nos atritos e tribulações familiares dos Wheelright, esta é uma história que, naturalmente, se define, em grande medida, nas suas personagens. E há bastante diversidade de temperamentos, neste aspecto. Desde as três protagonistas, todas elas bem diferentes, quer como resultado do meio em que viveram, quer pela própria postura perante a vida, aos restantes elementos da família e à forma como influenciam o ambiente que os rodeia, há, na vasta maioria das personagens deste livro, um conjunto de traços bastante vincados que os definem e que se manifestam visivelmente em todas as suas acções. É certo que, em alguns deles, são os defeitos que mais sobressaem, mas são também estes defeitos uma das bases para a tensão que caracteriza toda a convivência entre as personagens desta história.
A outra base está nos segredos que todos eles escondem e na forma como lidam com eles. Neste aspecto, uma das partes mais marcantes do enredo está nas recordações que Nona tem do seu passado, já que não só mostram a forma como a sua família se formou, mas, e principalmente, revelam vários paralelismos entre a sua vida e a de outros elementos da sua família. Na verdade, há muito de similar entre Charity (a sogra) e Grace (a filha). Além disso, o passado dá uma muito boa explicação para o aparente favoritismo de Worth e serve de base para revelar imperfeições nos momentos em que são as qualidades a sobressair do temperamento de algumas personagens.
Ainda que a história se centre em Charlotte, Nona e Helen, dando protagonismo alternadamente às três, os acontecimentos mais importantes têm também um impacto significativo noutras personagens e as acções destas são também relevantes, chegando a estar na base de alguns dos momentos mais marcantes. Há muito a mudar na vida familiar dos Wheelright e esta mudança, associada às complexidades e pequenos atritos das diferentes personagens, leva a que a história evolua a um ritmo pausado, com grandes momentos de tensão a surgir entre pequenas coisas. A leitura acaba por não ser propriamente compulsiva, mas não deixa de ser cativante.
Ficam algumas perguntas sem resposta, na forma como a autora conclui esta história. O futuro de Teddy e a possibilidade de uma relação amorosa para Charlotte são apenas alguns dos elementos que são resolvidos de forma um pouco ambígua. Fica, pois, nestes aspectos, a sensação de que um pouco mais poderia ser dito, mas também a de uma conclusão adequada, em que o futuro das personagens não se encerra nas últimas linhas do texto, mas deixa alguma coisa à imaginação do leitor.
De ritmo pausado, mas envolvente, com personagens de carácter muito vincado, mas que protagonizam momentos marcantes e surpreendentes, A Casa dos Dias Felizes parte da complexidade das relações familiares para criar uma história cheia de conflitos e de pequenas guerras, mas que marca principalmente pela união que prevalece apesar de todos os conflitos. Gostei.

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