segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Raptada (Lauren DeStefano)

Uma série de avanços científicos que acabaram por correr mal levaram a uma diminuição drástica no tempo de vida das novas gerações. Agora, os rapazes vivem até aos vinte e cinco anos e as raparigas apenas até aos vinte. Somente os da primeira geração ultrapassam essa barreira sem que o vírus os consuma e são estes que estão determinados a encontrar um antídoto - custe o que custar. Assim, para evitar a extinção da humanidade enquanto o antídoto não é descoberto, as famílias de grande fortuna contratam os Colectores para fazerem o seu trabalho sujo. Várias raparigas são raptadas e levadas para longe dos seus lugares de origem. Aí, um noivo escolhe as que mais lhe agradam para esposas, enquanto que as restantes são eliminadas. Rhine é uma dessas raparigas, e o mundo de conforto que lhe é apresentado ao ser entregue ao marido não lhe diz nada. Fechada na sua prisão dourada, dividida entre uma indesejada simpatia para com marido que a escolheu e o medo que sente do verdadeiro responsável pelo seu destino - e por outros segredos que apenas começa a compreender - o seu único objectivo é fugir e regressar para a sua vida junto do irmão. Mas há alguém na casa que lhe conquista mais que simpatia... e Rhine não o pode deixar para trás...
Um dos aspectos mais cativantes deste livro está no cenário que a autora constrói para o mundo em que decorre o seu enredo. Não tanto a casa onde Rhine se encontra confinada (e onde decorre a vasta maioria da acção), mas a perspectiva global do que está a acontecer no mundo. Este não é um aspecto que seja desenvolvido com grande detalhe (ficam, aliás, várias perguntas sem resposta neste primeiro volume), mas a premissa é muito interessante e cria uma boa base para a história individual das personagens. Quer no contraste entre os ambientes pobres e o luxo em que vivem os afortunados (é fácil ver esse contraste através da forma como Rhine, tendo passado por ambos, dá voz à sua história), quer nas divergências entre os que acreditam no antídoto e nos que acham que a raça está condenada, a autora parte de uma ideia com muito potencial e desenvolve-a de forma cativante e, nalguns aspectos, surpreendente.
Ao ser contada do ponto de vista de Rhine, a história ganha bastante em empatia (até porque a própria protagonista está divivida entre o horror que sente ante o mundo que descobre e os laivos de ternura com que, quase involuntariamente, acaba por se cruzar), ainda que acabe por levar a que certas situações fiquem sem explicação. Particularmente no que diz respeito a Vaughn, mas também ao que Linden sabe realmente e ao que acontece com as outras irmãs-esposas, há muitas circunstâncias que permanecem envoltas em mistério, porque a própria Rhine não tem as respostas para transmitir ao leitor. Ainda assim, e apesar de o enredo se centrar na protagonista, há também uma boa caracterização das outras personagens. Não tão aprofundada como a de Rhine, é certo, mas com o suficiente para mostrar o que estas têm de melhor (e de pior, nalguns casos).
Ainda um outro ponto positivo é a forma relativamente discreta de desenvolver o romance ao longo da história. Não há um verdadeiro triângulo amoroso a evidenciar-se (ainda que os sentimentos de Rhine para com Linden sejam, por vezes, ambíguos) e o romance entre as personagens nunca se torna verdadeiramente no ponto fulcral da história. É um ponto relevante, na medida em que motiva parte das escolhas de Rhine, mas não se sobrepõe ao restante do enredo, funcionando antes como uma evolução gradual e complementar ao rumo dos acontecimentos.
Trata-se, assim, de uma leitura envolvente, que surpreende principalmente pelo ambiente que serve de base ao enredo, mas que apresenta também um cativante conjunto de personagens para uma história envolvente e de leitura viciante. Uma boa leitura, portanto, e que promete muito de bom para os livros seguintes.

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