Acusado de heresia e conduzido ante o homem que o deverá julgar, Luca Vero vê-se perante uma inesperada possibilidade de salvação. A sua inteligência e o mesmo interesse pelos números que o colocaram naquela situação delicada agradam ao mestre, que o escolhe para ser um dos seus inquiridores, viajando pelas estradas dos mundos para inquirir e julgar e traçar um mapa dos medos do mundo, agora que o fim dos tempos se aproxima. Luca é jovem e inexperiente, mas mais capaz do que ele próprio se julga, e a sua primeira inquirição irá revelar isso mesmo. Enviado a uma abadia onde, desde a chegada da nova abadessa, as freiras parecem estar a enlouquecer, Luca encontrará provas mais que suficientes para incriminar a jovem Isolde, aí colocada pelo irmão por suposta vontade do pai, mas também uma suspeita. E, quando muitos parecem demasiado ansiosos por acusar e executar a jovem abadessa, começa a surgir a suspeita de que o culpado não seja assim tão óbvio.
Destinado a um público mais jovem e, portanto, com um desenvolvimento bastante mais simples do enredo e das personagens, este livro é bastante diferente dos outros romances de Philippa Gregory. Desde logo, por praticamente todas as suas personagens serem fictícias. Não há uma figura histórica real no centro da narrativa, mas antes um conjunto de personagens, jovens e com origens bastante diferentes, cujos caminhos se cruzam ao longo de uma história intensa e atribulada. Além disso, o contexto histórico é apresentado de forma bastante mais gradual, sendo acção e mistério o centro da narrativa.
No que respeita ao enredo, a situação delicada de que parte a história dos dois protagonistas contribui para despertar curiosidade - e alguma empatia - praticamente de imediato. Tanto Luca como Isolde se encontram num ponto de mudança - e a situação inicial de Luca é particularmente marcante - que irá determinar o rumo das suas vidas e, diferentes como são as suas escolhas (se existe, de facto, alguma escolha), esse início complicado permite conhecer, desde logo, alguns dos melhores traços da personalidade dos protagonistas.
É inevitável alguma estranheza, pelo menos no início, ao constatar a posição que tanto Luca como Isolde ocupam, tendo em conta a sua idade. Esta situação é, contudo, justificada e a juventude dos protagonistas explica também alguns dos seus momentos de maior inocência (e os consequentes erros), realçando o impacto de outras acções inesperadamente sábias. Isto permite, também, acompanhar o seu crescimento e ver a evolução do seu pensamento, sendo este aspecto particularmente relevante tendo em conta que ambos prestaram votos religiosos e - segundo uma personagem relevante - pesar por si próprio não é permitido a quem o faz.
Intenso e envolvente, com um bom ritmo de acção e personagens empáticas, Predestinado abre da melhor forma uma série que, mais simples e directa que os outros livros da autora, apresenta, ainda assim, muitas das melhores características desses livros. Ficam, é claro, bastantes perguntas sem resposta. E, também por isso, muita curiosidade em ler o próximo volume desta série de início muito promissor.
Fiquei curiosa :)
ResponderEliminarVou querer ler este livro assim que possa.
Beijinho